D. CLEUZA – QUINTO E ÚLTIMO CAPÍTULO – Pão de Canela e Prosa
Pão de Canela e Prosa

D. CLEUZA – QUINTO E ÚLTIMO CAPÍTULO

 

_ Quem matou a Dona Cleusa? – perguntou Gilberto de repente causando impacto.

_ Não sei – disse Magali assustada.

_ O homem de preto – respondeu Fábio de olhos bem abertos.

_ Eu não fui – quase balbuciou José Antônio.

_ Nem eu – afirmou Sebastião. – Eu não faria uma coisa dessas

_ Foi o homem de preto – voltou Fábio. – Ele saiu correndo daqui.

_ Mas quem é o homem de preto? – perguntou Gilberto. – Ninguém sabe quem é o homem de preto,

_ Ele é o homem de preto, uai – tentou explicar-se Fábio.

_ Como ele é? – Gilberto parou na frente do rapaz.

_ Eu não vi ele direito. Eu estava sentado lá fora e ele passou correndo por mim. Tropeçou no meu pé e nem pediu desculpas.

_ Você não sabe nada dele? Poderia descrevê-lo?

_ Não! Não sei nada. Nunca vi ele aqui.

_ Eu não vi ninguém – interveio Magali.

_ Pois é, você afirma que não havia ninguém na casa além de vocês dois.

_ Não que eu saiba – disse Magali.

_ Então vocês a mataram.

_ Claro que não – explodiu Magali. – Não teríamos nenhum interesse na morte da mamãe.

_ Claro que não, ela que dava dinheiro pra todo mundo – brincou José Antônio no seu canto. – Quem iria matar a mamãe?

_ O homem de preto – afirmou Fábio.

Uma rajada de vento entrou na sala abrindo a cortina e logo após fechando-a novamente e trazendo a mesma penumbra para o ambiente. Magali sentiu um arrepio e Sebastião se benzeu. José Antônio riu alto. Fábio deu uma gargalhada e disse com uma voz grave:

_ Eu matei aquela mulher desgraçada.

_ Quem é você? – perguntou Magali.

_ Um amigo – respondeu a entidade que incorporara em Fábio. – Eu matei aquela charlatã. Ela era uma falsa médium. Não poderia continuar com a farsa.

_ Fábio, como você a matou? – perguntou Gilberto.

_ Eu não sou o Fábio, tenente – respondeu ele.

_ Quem acredita que você não seja o Fábio? Que bobagem é essa?

_ Ele é um espírito que incorporou o Fábio, tenente – tentou explicar Sebastião.

_ Não acredito nessa bobagem – disse o tenente. – Mas se o Fábio confessou eu vou ter que prendê-lo.

_ Mas não foi o Fábio – disse Magali. – O que pode ser feito?

_ Me conta como foi o assassinato – ordenou Gilberto para Fábio ou o quem quer que fosse que estivesse ali.

_ Eu entrei na sala dela – começou a voz grave, – ela estava lá sentada. Quase dormia. Eu entrei e ela não me viu. Quando ela percebeu eu já estava com a faca na mão e passei na garganta dela, uma, duas vezes.

_ Ela caiu? – perguntou Gilberto.

_ Sim – respondeu o rapaz com a voz menos grave. – Ela caiu e eu acabei de matar ela.

_ Por que? – perguntou Magali chorando.

_ Porque ela me prometeu que eu iria voltar a morar com a minha mulher e eu fui lá procurar ela e ela bateu a porta na minha casa. Disse que não quer me ver nunca mais – explicou Fábio com a voz do Fábio, esquecendo de fingir a incorporação.

_ Você a matou, Fábio? – perguntou Magali exaltada.

_ Sim. Matei – gritou ele. – Matei mesmo. Ela me viu entrar na sala e nem se importou com a minha presença porque já estava acostumada comigo. Ela se virou para o altar e eu passei a faca no pescoço dela. Ela caiu e eu acabei o trabalho. Depois foi fácil inventar a historia do homem de preto e ficar lá fora esperando.

_ Mas e o sangue? Você não se sujou?

_ Sujei pouco, mas depois que entrei na sala toquei na morta e aí o sangue na minha roupa ficou por conta do contato.

_ Você está preso, Fábio – disse Gilberto, – pelo assassinato de dona Cleusa.

Dois guardas entraram e prenderam o rapaz levando-o dali.

_ Mas e a faca? – perguntou Sebastião.

_ Havia duas facas na cena do crime. Foram analisadas por nós. Uma delas tinha sangue de animais.

_ Pode ter sido usada na cozinha – disse Magali.

_ Nenhum ritual satânico? – perguntou Gilberto.

_ Claro que não – falou alto Sebastião.

_ A outra faca tinha o sangue de dona Cleusa e as digitais do Fábio. Eu já sabia que era ele o assassino.

_ Que coisa! – disse a filha.

_ Acabou-se o que era doce – brincou José Antônio.

_ Como vocês ficarão? – perguntou Gilberto.

_ Magali vai assumir a benzeção – disse Sebastião. – E você, José Antônio, vai parar de se drogar, trabalhar conosco ou vai ter que se mudar de casa.

As conversar da família não interessavam ao Tenente Gilberto que se despediu e saiu da casa. No carro, respirou contente com mais um caso resolvido. Um caso de assassinato por alguém tão crente. Assassinato por causa de acreditar demais que tudo possa ser resolvido somente com a reza e sem esforço pessoal. Mais um jovem com a vida estragada, pensou Gilberto.

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Artur Laizo Escritor

Artur Laizo nasceu em 1960, em Conselheiro Lafaiete – MG, vive em Juiz de Fora há quatro décadas, onde também é médico cirurgião e professor. É membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete, Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas e presidente da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora - LEIAJF.

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