DIÁRIO DO CONFINAMENTO – 12 – Pão de Canela e Prosa
Pão de Canela e Prosa

DIÁRIO DO CONFINAMENTO – 12

Dia 15 de abril de 2020
29º dia

Mundo
Contaminados: 1981239, mortos: 126681
Brasil
Contaminados: 26262, mortos: 1532

O fato de ficar em casa está tirando muita gente do sério. Está fazendo aumentarem as brigas de casais e com isso, aumento de separações, brigas, violência contra a mulher e contra crianças. As pessoas acham insuportável ficar confinados por um período, mas muitos, se não tivessem que ficar em casa, adorariam ficar e não ir trabalhar. “Eu não aguento ficar sem trabalhar” dizem uns. “Eu tenho que sair e me sentir útil”, dizem outros. Na realidade, nós trabalhamos porque fomos criados para isso e depende do que ganhamos o modo de vida que temos. E se escolhemos um modo de vida caro, vamos ter que ganhar mais para manter esse nível. Ganhar mais, nem sempre significa trabalhar mais. Às vezes, quem faz menos ganha, trabalha muito mais.
A população está nas ruas. Tive de sair à tarde ontem e, como estava de carro, aproveitei para fazer um caminho mais longo na volta para casa. O que eu vi nas ruas? Muita gente pedindo esmolas, muitos moradores de rua se organizando nos seus cantos e expondo-se à doença e complicando também a vida de todos. Os governos estudam liberar ou não a abertura de comércios. Acredito que alguns favoráveis à quebra do confinamento tenha algum negócio e está tendo prejuízo. Por que não manter a quarentena um pouco mais?
Quem está na linha de frente nos postos de saúde e hospitais sabe que estão se esgotando vagas, materiais e medicamentos para tratar os contaminados, principalmente aqueles que precisam de CTI. Não se consegue criar uma vaga de CTI de uma hora para outra, porque essa “vaga”, não é só o boxe e a cama. Depende de ventilador mecânico, monitores, materiais de uso exclusivo para aquele enfermo, enfim, a vaga em uma UTI é uma coisa bem mais complexa que a vaga na enfermaria de hospitais. Quem pode ficar em uma enfermaria, muitas vezes, consegue um tratamento para essa pandemia em sua própria casa. O importante, não é todo mundo contrair a doença e morrer quem tem que morrer e se imunizar quem sobrar. Isso seria o fim da pandemia, mas também de muita gente que nós queremos bem, pessoas que nos fazem falta e que ainda estão em uma fase produtiva, com uma vida feliz pela frente.
Voltando ao fato de brigas domésticas. Será que o confinamento está provocando essa briga doméstica, ou as pessoas não se suportam e por estar mais tempo juntas perceberam que essa “união” não é o que espera ter. Ficar com uma pessoa, conviver com alguém, requer paciência, requer amor, gostar da pessoa e uma coisa importante que não temos muito, caridade. Caridade, não é só dar dinheiro para o pobre na esquina do semáforo, ou dar comida para um abrigo de pessoas carentes – muitos tiram fotos disso para se promover e a “caridade” foi para o brejo -, mas suportar defeitos e falhas da pessoa com quem convivemos. Cada um é do seu próprio jeito e não conseguimos fazer com que ninguém seja ou pense como nós. Temos que dar às pessoas o direito de serem elas mesmas. Temos que respeitar o espaço de cada um e cada um respeitar o espaço do outro. Não é porque está namorando, casado com alguém que se passa a ser dono dessa pessoa. Impossível isso! Mesmo no tempo da escravidão, quando se comprava o ser humano que nada mais era que um objeto para o dono, nem nessa época, ninguém conseguia ser dono de ninguém.
E os filhos? “Meu Deus! Que bando de crianças chatas, não param um minuto.” “Criança deveria ter um interruptor.” Essas frases no dia-a-dia de brincadeira para se falar dos filhos é uma coisa. Mandamos os nossos filhos para as escolas – de preferência horário integral – e esperamos que os professores deem a educação que deveríamos ter dado. Professor dá conhecimento. Educação é coisa de pai e mãe. Estamos tão afoitos com o nosso trabalho, festas, reuniões sociais, ou cansaço, dor de cabeça, que não prestamos atenção aos nossos filhos e quando eles estão em casa, sem aulas, sem obrigações, querem a nossa atenção e não temos paciência para isso. Filho é para sempre! Se não queremos cuidar, melhor não tê-los.
Enfim, acredito que a pandemia com seu confinamento serve para que tiremos algum proveito para nossas vidas. Estamos em casa, com mais tempo para os nossos. Estamos mais juntos e como mais tempo para estarmos juntos. Temos que aproveitar esse momento para pensar na vida. Pensar na vida costuma doer! Temos que tirar reflexões e decisões sobre nosso futuro. Aproveitem o tempo em casa.
Como eu disse, não é todo mundo pegando a virose, morrendo quem tem que morrer, que vamos resolver essa situação única em que estamos vivendo.
Passou agora o carro da prefeitura mandando o povo ficar em casa. As ruas estão cheias de gente andando para um lado e outro. Se o comércio ainda está fechado, o que esse povo está fazendo nas ruas? E, pior, um bando de idosos sem máscaras, sem cuidados, alguns até fumando.
Deus está olhando o que anda acontecendo.
E a nossa parte? Estamos fazendo?

               

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Artur Laizo Escritor

Artur Laizo nasceu em 1960, em Conselheiro Lafaiete – MG, vive em Juiz de Fora há quatro décadas, onde também é médico cirurgião e professor. É membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete, Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas e presidente da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora - LEIAJF.

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