DIÁRIO DO CONFINAMENTO – 20 – Pão de Canela e Prosa
Pão de Canela e Prosa

DIÁRIO DO CONFINAMENTO – 20

DIÁRIO DO CONFINAMENTO – 20
Dia 08 de maio de 2020
D 52

Mundo:
Confirmados: 3.845.607; Casos recuperados: 1.282.930; Mortes: 269.564;
Brasil:
Confirmados: 135.773; Casos recuperados: 55.350; Mortes: 9.190;
Minas Gerais:
Confirmados: 2.770; Mortes: 106;
Juiz de Fora:
Confirmados: 296; mortes: 15.

Alguém assistiu ao filme “A escolha de Sofia?” . É um filme fantástico! “É um dramalhão americano” – dirão alguns. “Não gosto dessas coisas que me fazem chorar. Além do quê, é filme!” – dirão outros. É sim! É filme! Um filme onde uma mãe de dois filhos é obrigada a escolher um para viver e outro para ser morto em um campo de concentração nazista. Não há uma só mãe no mundo que faça essa escolha e tenha condições de continuar vivendo em paz. Nesses campos nazistas muitas pessoas morreram assassinadas, ou de fome ou de experimentos médicos que são considerados erros médicos, mas durante a guerra, impunes.
Muita gente espreita o trabalho da equipe de saúde desde antiguidade para culpar alguém por erro médico. Se se sai tudo bem, ótimo. Alguns até acham que o profissional é bom e muitos reconhecem. Muitos, no entanto, estão à procura de culpados para qualquer coisa. Muitas vezes o profissional de saúde não tem como resolver fatores agravantes que vão levar um ser humano à morte: desequilíbrios, vícios – tabagismo o pior entre os usos “lícitos” -, descuidos, sedentarismo, idade e desgaste de órgãos e tecidos. Todos nós iremos morrer um dia, quando chegar o nosso momento, mas muitos procuram abreviar esse tempo…
O erro médico, na realidade, implica em três coisas principais: imprudência, imperícia e negligência. Imprudência quando o profissional realiza atos imprudentes, não embasados em ciência. Imperícia, quando o profissional realiza atos para os quais não está preparado. Negligência, quando o profissional deixa de fazer algo ou ignora o que está acontecendo com um paciente o que resulta na sua piora ou na sua morte.
Erro médico não quer dizer somente erro do médico, mas de qualquer profissional ligado ao paciente. O médico e os profissionais de saúde não trabalham para cometer erros que podem acontecer. Somos todos humanos.
Na antiguidade, o médico que perdia um paciente era punido com amputação das mãos ou até mesmo perdia a vida .
O que está acontecendo nos hospitais do mundo todo nessa pandemia é triste! Podemos até chorar e não é filme. Não é dramalhão da sétima arte. A gente vê pela televisão hospitais do norte e nordeste sem a mínima condição de atender a tantos casos da contaminação pelo Covid19 e muita gente morrendo. Morrendo por falta de médicos? Ainda não. A maioria não se contaminou, graças a Deus e muitos que adoeceram estão voltando para a guerra. No entanto, muitos profissionais de saúde já morreram no mundo e, no Brasil, não está sendo diferente. Mas ver um hospital onde chove dentro – melhor dizendo tem uma cascata de água no meio da enfermaria -, ver mortos enrolados no saco de lixo ao lado de doentes graves, ver pacientes piorando da insuficiência respiratória e não ser possível transferir para uma UTI porque não tem vaga, não poder tratar uma doença porque falta medicação e até mesmo conhecimento suficiente para se criar uma vacina contra, ver médicos escolhendo usar o único ventilador que tem disponível nesse ou naquele paciente porque um tem mais condição de sobrevida, não é fácil. Não é fácil para a família do paciente grave com muita chance de morrer, não é fácil para o paciente que não consegue respirar e não é fácil para o médico e sua equipe que estão se matando para tentar salvar e tendo que fazer a “Escolha de Sofia” entre um paciente mais ou menos grave e muitas vezes, como no filme, perder ambos para a fatalidade. E vemos também covas e mais covas sendo abertas e, até nisso, gente que não acredita e, não dá pra chamar de “gente” um ser que forja uma notícia dizendo que esses sepultamentos em valas comuns estão sendo feitos sem corpos para enganar o povo.
A situação no país se agrava. A população anda de máscara. Tive de ir ao supermercado ontem e, para entrar, é obrigatório o uso de máscara. Havia, no entanto, uma família composta de avô, avó, três filhos e dois netos com as máscaras nas mãos ou no queixo passeando pelos corredores. Um dos meninos, com a máscara na mão, corria como se estivesse em um parque de diversão. Em outro corredor vi uma madame e sua filha elegantemente vestidas com a máscara no queixo fazendo pesquisa de preço. Supermercado deixou de ser lugar de passeio e é um lugar para se comprar necessidades. Claro que poucos respeitam os caixas e repositores que lá estão, arriscando suas vidas, para que nós tenhamos comida na mesa.
Não há televisão nas casas das pessoas para que vejam e entendam o que se passa no país e no mundo? Ou só a novela e o BBB são importantes? Não há consciência e conhecimento para ter uma opinião formada sobre nada. Vemos isso até nas pessoas que “amávamos” e que foram “namoradinha” durante boa parte de nossas vidas. Decepção! Não há como evitar o caos que se aproxima.
Mas tem que haver uma esperança! De repente, depois que mais de setenta por cento da população for contaminada – muitos morrerem -, os que sobreviverem à pandemia, tenham condições de reerguer a distopia real que será nosso país.
Haverá sempre um Deus para nos dar conforto.

http://www.portalmedico.org.br/biblioteca_virtual/bioetica/ParteIVerromedico.htm
https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk00UAWV5hZdXCSff4IJXhiyT8AVIpw%3A1588940248410&ei=2E21XtzFGKG55OUPueq8yAw&q=coronav%C3%ADrus+juiz+de+fora

Foto: https://pixabay.com/pt/illustrations/alerta-corona-manter-higiene-4960172/

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Artur Laizo Escritor

Artur Laizo nasceu em 1960, em Conselheiro Lafaiete – MG, vive em Juiz de Fora há quatro décadas, onde também é médico cirurgião e professor. É membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete, Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas e presidente da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora - LEIAJF.

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