ENTREVISTA COM O VAMPIRO DOUGLAS – Pão de Canela e Prosa
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ENTREVISTA COM O VAMPIRO DOUGLAS

Eu saí de casa, entrei no meu carro e comecei a dar ré para poder sair da garagem. Estava indo para a faculdade dar aulas e o tempo estava justo. Olhando pelo retrovisor eu continuei a ré até a área de manobras e o sensor de ré começou a sinalizar apesar de eu não ver nada no espelho. Bati em alguém. Sabia que era alguém porque ouvi um gemido alto. Parei o carro e saí dele para ver o que acontecera. Deitado no chão perto das rodas traseiras estava um homem forte de cabelos longos com alguns ferimentos nas pernas. Olhei para a cara dele e me assustei:

_ Douglas! – exclamei. – O que você está fazendo aqui?

O vampiro, personagem do livro que estou escrevendo agora sorriu pra mim e me disse:

_ Uai, você sempre pensou que iríamos nos rever assim. Aqui estou eu.

_ Levante-se daí – ordenei. – Você não deveria estar atrás do meu carro. Que ideia!

_ Você me atropelou – disse ele rindo e deixando aparecer as presas aumentadas naquele momento.

_ Sim, vampiro não aparece no espelho! – ofereci minha mão para ele se levantar e lhe disse: – Entre no carro e vamos conversar.

Ele entrou no carro e eu pude ver as feridas, nas duas pernas, desaparecendo rapidamente. Pensei em colocar a mão para ajudar, mas ele me advertiu:

_ Não coloque a mão no meu sangue. Ainda não!

_ O que você quer? – arrepiei ao ouvir o “ainda não”.

_ Conversar com você – ele sorriu novamente e eu conferi que ele era muito bonito mesmo, do jeito que eu o criara no livro.

_ Quero saber como anda meu livro – ele foi enfático.

_ Desde aquele dia que conversamos no campus da Universidade Federal de Juiz de Fora que eu estou escrevendo a sua história. Você tem acompanhado?

_ Sim, mas ainda hoje eu vejo que você prefere o Augspartem[1].

_ Claro que não, Douglas. Que ideia? – menti eu sabendo que a minha mente ele não poderia ler. – O que você quer saber?

O vampiro olhou para mim. Ele estava excitado pelo fato de estar perto do seu criador e poder conversar comigo fora do livro. Eu estava fascinado pelo fato de ele ser o primeiro personagem que eu criara que aparecia em carne e osso para discutir o seu futuro, essa era a segunda vez que a gente se encontrava.

_ Como vai chamar o livro?

_ O vampiro Douglas.

_ Como você o está escrevendo?

_ Eu fiz previamente uma divisão de trinta capítulos, talvez precise de um pouco mais, onde eu começo contando quando você conheceu a Margareth.

_ Gosto dela. Boa pessoa aquela técnica de enfermagem. Não sei se você sabe, mas ela está muito bem atualmente.

_ Mas logo no segundo capítulo eu conto a sua chegada em Juiz de Fora em 1850 e como tudo aconteceu. Falo de Emma – senti que ele estremeceu um pouco, – da fazenda, do capataz, de todos com quem você conviveu na época.

_ Muito bom. Foi um período de grandes descobertas até pra mim mesmo.

_ Falo que você foi transformado em vampiro pelo Augspartem…

_ De novo Augspartem – interrompeu-me ele.

_ Você não gosta dele? – perguntei.

_ Claro que gosto. Foi ele quem me transformou em vampiro e entramos em algumas boas por aí – ele riu.

_ Eu vou entremeando sua história antiga à atual no desenrolar do livro.

_ Muito bom – ele estava contente. – E por que você acha que não vai dar para ser só trinta capítulos?

_ Porque você na sua vida em Juiz de Fora, interferiu em um monte de coisas na história da cidade e eu pretendo escrever isso tudo. Você me contou coisas que preciso contar para quem quiser conhecer você – expliquei.

_ Eu interferi na história da cidade?

_ Como não, Douglas? – perguntei parando em um semáforo fechado. – Você estava presente em uma série de acontecimentos importantes da cidade. No início da produção de cerveja, você estava lá. Nas grandes construções, na política, na vida social da cidade, na igreja, até na igreja você estava lá.

Ele riu bastante e estava feliz pelo que eu falava. Eu estou produzindo o livro e ele é o personagem principal. Eu estava contente por ter um vampiro no meu carro, eu sou realmente louco. Mas ele nem parecia com o predador que costumava ser quando estava com raiva ou com fome.

_ Fala pra mim todas as características do livro – pediu ele.

_ Bem, o livro está programado para lançamento no final de 2018 ou início de 2019. O título é “O VAMPIRO DOUGLAS[2]”, e eu conto a história do Douglas que chegou a Juiz de Fora em 1850 para trabalhar nas fazendas de café da cidade. Era um rapaz de vinte anos de idade forte, com músculos na medida certa, cabelos negros e grandes, trazia uma esperança de vida imensa. Ele apaixonou-se por uma criada do patrão e sofreu muito quando ela morreu. No meio desse sofrimento todo encontrou com Frederico Augspartem que viera da Mansão do Rio Vermelho para conhecer a cidade que despontava. Foi transformado pelo vampiro alemão e a partir daí vive mil aventuras.

A história antiga de Douglas é contada enquanto a atual se desenrola e as duas se fecham no momento em que Augspartem e ele decidem voltar a São Luiz.

_ Então ele vai voltar a São Luiz? – perguntou-me ele. – Mas Jaime[3] não está mais preparado para revê-lo.

_ Isso não sabemos, Douglas. Só depois que vocês forem para São Luiz.

_ E quando será? Quando sairá o livro que iremos para São Luiz?

_ Esse só em 2019. Não estou escrevendo ele ainda. Preciso primeiro terminar o seu.

_ Ótimo! Veja – disse-me ele, – você está chegando à UNIPAC. Vou lá com você conhecer suas alunas – riu ele maldoso.

_ Claro que não. Que ideia!

_ Estou brincando. Mas eu conheço todo mundo com quem você convive. Gosto muito de um monte de seus amigos, por falar nisso.

_ E você vai fazer o que agora?

_ Eu vou pra noite de Juiz de Fora. Meu carro está parado ali no estacionamento da faculdade.

Olhei e vi o seu carro parado no estacionamento. Ele deixara o carro ali e forjara o atropelamento na minha garagem para que pudéssemos conversar.

_ Você está muito bem – disse-me ele olhando-me e deixando as presas à mostra. – Deve ser bom seu sangue.

_ Você não faria…

_ Por que não? – perguntou ele rindo e saindo do carro. – Meu criador, querido, até qualquer dia. Eu volto para que conversemos mais – abriu a boca em um sorriso lindo para mostrar as presas enormes saindo de sua boca – ou qualquer outra coisa.

Entrou no seu carro e saiu em disparada.

Eu fiquei um pouco no carro sentindo o cheiro dele. Ele também cheirava a Patchouli como Augspartem. Eu estava contente de conversar com ele. Mas será mesmo que ele poderia me morder qualquer dia e me transformar em vampiro? Ouvi sua risada dentro do carro e apressei-me em descer do carro e ir para a faculdade dar aulas.

Será quando ele apareceria de novo?

[1] Frederich Augspartem ou Frederico, vampiro, personagem principal do livro “A MANSÃO DO RIO VERMELHO” – Editora Novo Século – 2016.

[2] O VAMPIRO DOUGLAS – romance que conta a história do vampiro Douglas, morador de Juiz de Fora desde a fundação da cidade. A história do livro é independente da Mansão do Rio Vermelho, mas o desenrolar das duas histórias se dará no terceiro livro da série.

[3] JAIME – psicólogo amigo de Frederico Augspartem no livro A MANSÃO DO RIO VERMELHO.

 

Foto: http://www.zona33.com.br/2014/11/7-relatos-de-vampiros.html

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Artur Laizo Escritor

Artur Laizo nasceu em 1960, em Conselheiro Lafaiete – MG, vive em Juiz de Fora há quatro décadas, onde também é médico cirurgião e professor. É membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete, Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas e presidente da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora - LEIAJF.

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