Uma mulher magra! Muito magra, com os ossos à flor da pele, se é que lhe restava pele.
Vestida de molambos, rasgados pelas madrugas dos frios invernos de calçadas, cada dia mais nua.
Com um passado negro, um futuro horrendo e um presente famintos, a esmolante anda pelas ruas de belos apartamentos e carros. Aos seu pés chora o filho que quer comer, quer mamar e a mãe não tem forças para lhe falar nada, não tem uma gota de leite, não tem uma gota de sangue.
A fome a obriga a procurar nos lixos das casas restos apodrecidos de comidas, restos, restos, restos!
O olhar profundo as senhora, que devido ao seu poder econômico não é olhada, não é tratada como gente e é pisada e é motivo de zombaria e é motivo de uso de inescrupulosos, haja visto o filho, procura algo que possa calar no estômago, o frio ronco da fome. E acha e vê e come uma suja casca de banana que talvez possa enganar um pouco o tétrico estado de fome!…
Maloca Querida, 1998:49-50.
Foto: https://www.slideshare.net/conticasos/imagens-da-fome-no-mundo