MORREU UM AMIGO – Pão de Canela e Prosa
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MORREU UM AMIGO

Ontem eu soube que morreu um amigo de turma. Uma coisa terrível para todos nós que gostávamos dele. Ele era um médico competente e totalmente dedicado à medicina. Exerceu sua carreira em prol do próximo se dedicando, entre outras coisas ao atendimento do Pronto Socorro de Juíz de Fora. Morreu de câncer de pâncreas.
Hoje eu soube que morreu um amigo da minha infância. Era engenheiro elétrico em Belo Horizonte. Era uma pessoa alegre, de bem com a vida e sempre levantou o astral da turma toda. Morreu de Covid.
Eu não os via há anos. As vidas tomam outros caminhos e a gente não se encontra, mas se ama assim mesmo.
É esse amor que move o mundo e faz o ser humano ser mais humano se diferenciando dos animais – que eu acredito que amam também e muito.
Perder um parente, um amigo para a morte não é fácil. Queremos ter as pessoas ao nosso lado – ou saber que elas estão em algum lugar, vivendo suas vidas, mas fáceis de ser acessadas.
A morte ainda é um grande tabu para todos os povos e religiões. Não existe o mesmo tratamento para celebrar o óbito em todos os países.
Jorge Amado dizia que temos que “beber o morto” – todo mundo enchendo a cara de bebida alcoólica e sofrendo e rindo e festejando aquele amigo importante que deixou a vida material naquele momento. Há quem sofra e mantenha o luto por meses, anos, resto da vida…
Disseram-me hoje que nossa permanência na terra está definida por Deus e nossa hora de ir de volta ao plano espiritual já está marcada na nossa chegada. Tudo bem! Eu sei disso!
Espíritas acreditamos que somente o suicida pode abreviar o seu tempo de vida no plano terreno. Todos nós morreremos na hora certa!
Tudo bem isso também! Mas isso não vai me obrigar a ficar feliz porque meus amigos morreram. Isso não vai aliviar a ausência que essas pessoas que amo tanto vai fazer. Posso sentir saudade imensa do meu irmão que mora na Europa, mas não posso sofrer pelo amigo que morreu?
Desculpem-me todos, mas não é hora de achar normal ou lindo que quem amamos morreu. As mortes estão se sucedendo em larga escala nessa pandemia e, mesmo que, seja Deus nos chamando de volta, podemos e devemos sofrer e chorar e sentir falta e ficar tristes. Faz parte da nossa humanidade. Somos humanos e ninguém nesse plano, na atualidade, está perto de ser perfeito. Pelo contrário!
Somos imperfeitos, somos humanos e sofremos por amor e sofremos pela falta que as pessoas nos fazem.
Que meus amigos mortos e os amigos mortos de todos, e meus parentes mortos e os parentes mortos de todos estejam bem e se preparando para os desígnios de Deus.
Vou sentir sempre a falta e vou prantear meus mortos até o dia que estiver marcado para eu me juntar a eles.

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Artur Laizo Escritor

Artur Laizo nasceu em 1960, em Conselheiro Lafaiete – MG, vive em Juiz de Fora há quatro décadas, onde também é médico cirurgião e professor. É membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete, Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas e presidente da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora - LEIAJF.

8 comentáriosDeixe um comentário

  • Achei fantástico!!! Podemos sim chorar nossos mortos. Parabéns pela sensibilidade e ousadia em falar sobre luto nesse tempo difícil onde escutamos, “morreu de Covid mas era velho, obeso, grupo de risco…” E daí?! Eram pessoas, amores de alguém…

  • Só os insensíveis não se incomodam com a partida dos entes queridos. Racionalmente podemos acreditar que nosso amigo, irmão, pai ou mãe esteja bem mas a perda física foi , e foi sempre.

  • Exatamente. Definiu de forma clara o sentimento.de muitos. A morte ainda é para mim o maior castigo. Eu sofro com ela. Sei que a vida é um ciclo mas sei também que meus sentimentos fazem parte de mim. Sinto muito! Seguimos…

  • Caro amigo,a morte ainda é um dos maiores mistérios da vida. É inevitável nos questionarmos o porquê de termos que nos despedir de alguém que amamos, ou mesmo temer o nosso próprio fim. Sinto muitas saudades das pessoas que partiram…

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