MORTE NA RUA BRÁS BERNARDINO – 6º CAPÍTULO – Pão de Canela e Prosa
Pão de Canela e Prosa

MORTE NA RUA BRÁS BERNARDINO – 6º CAPÍTULO

Breno de Souza Júnior, morador do apartamento seiscentos e cinco, chegou de óculos escuros. Estava com dor de cabeça de ressaca pelo tanto que bebeu na véspera. O porteiro avisou ao tenente que ele havia chegado minutos antes da queda da vítima sobre o carro na rua. Ele não tivera tempo de subir ao sexto andar, estrangular a vítima e jogá-la pela janela, mas Gilberto teria que ouvir todos eles. Breno tinha dezenove anos, era estudante de administração na UNIPAC centro e morava sozinho. O rapaz, de cabelos castanhos e desalinhados, escondia sob os óculos um belo par de olhos verdes. Gilberto observou que ele era da sua altura, deveria ter um metro e oitenta mais ou menos. O militar observou ainda que pela magreza do rapaz e pela ressaca que mostrava na cara, não teria forças para matar a mulher.
_ Bom dia, Breno – cumprimentou o tenente.
_ Bom dia, Tenente – respondeu ele lentamente.
_ Você está bem? – perguntou o militar. – Aceita um café?
_ Por favor, Tenente. Eu não deveria ter acordado tão cedo assim – ele sorriu.
_ São quase quinze horas – conferiu o militar no relógio da parede.
_ Eu bebi muito ontem, Tenente. Fui para uma festa com tudo liberado e minha namorada terminou o namoro no início da festa – explicou ele. – Para não ficar vendo ela dançando com outros, eu enchi a cara.
_ Lembra que horas chegou em casa?
_ Muito tarde, Tenente. Muito tarde. Só me lembro de quando o senhor bateu na minha porta dizendo que tinha uma mulher morta – confessou ele.
_ Você conhecia a vítima? – perguntou o tenente.
_ Não. Eu a vi uma vez no elevador. Cumprimentamo-nos e não passou disso as outras vezes que nos vimos.
_ Nada?
_ Nada! – ele riu. – O senhor já soube das coisas?
_ Que coisas, Breno?
_ Das coisas que falam dela. Ela tinha um fôlego de leão – ele riu e tomou do café que o militar lhe ofereceu.
_ O que você sabe dela? – Gilberto forçou o depoimento.
_ Que ela transava com todos daquele prédio – ele riu.
_ Você não? – perguntou o militar.
_ Não! Eu sou um babaca! – dessa vez ele não riu. – Pode ser que se ela estivesse viva amanhã iria rolar. Eu tinha namorada e amo ela, Tenente. Daí, eu só tive ela, a minha namorada, até hoje. Eu só peguei a desgraçada e ela me traiu com um monte – disse ele com raiva.
_ Tudo bem, Breno – tentou acalmá-lo Gilberto. – Eu tenho que lhe perguntar: Você matou a Fátima?
_ Nem que eu quisesse – respondeu ele mais calmo. – Eu cheguei tão bêbado, mas tão bêbado que o Geraldo teve que apertar o botão do meu andar.
_ Você mora no andar da vítima…
_ Mas meu apartamento é do lado do elevador. Eu saí e entrei direto em casa. Nem sei como tirei a roupa para dormir. Não matei.
_ Você tem alguma coisa que queira me contar a vítima?
_ Não, Tenente. Tirando que ela era uma “mulher dada”, o senhor me entende, ela era muito mais velha que eu e devia achar que eu era criança para ela – ele sorriu triste. – Ela nunca me convidou pra ir ao seu apartamento.
_ Tudo bem, Breno. Volte pra casa e volte a dormir. Conversaremos outra vez depois.
O rapaz virou o resto de café que tinha no copo e saiu da sala do militar ainda cambaleando. Gilberto pensou na juventude: Como são bobos esses meninos. Tão jovem e se martirizando por amor a outra jovem que igualmente a ele, nada viveu. Esses meninos tinham muito que aprender sobre a vida ainda.
Foi interrompido pelo médico legista que entrou em sua sala após se anunciar. Tinha outra descoberta!
_ Fala, Paulo – convidou-o a entrar em sua sala. – Aceita um café?

_ Não, obrigado. Já acabei com o café do necrotério e o povo lá fica me xingando por isso – respondeu Paulo o médico legista que estava incumbido do caso.
_ Mas o que o trouxe aqui?
_ Descobri mais uma coisa importante: na taça de vinho da vítima e no seu sangue havia uma dose muito alta de Clonazepam. Ela foi dopada antes de ser morta. Por isso não reagiu ao estrangulamento.
_ Que coisa! – Gilberto sorriu ao ouvir a notícia. – Então usaram Clonazepam. Muito obrigado, Paulo. Isso foi de grande ajuda.
O médico saiu e Gilberto sozinho pensou: Três pessoas tomam Clonazepam. Walter, Claudio e Sueli, mas isso não quer dizer nada isolado. Compram-se remédios controlados em qualquer lugar até no mercado negro sem receita médica. Mais um ponto que se ajunta para o quadro de assassinato premeditado. Quem a matou planejou isso algum tempo antes. Quem matou a Fátima? Ele se serviu de outro café e sorriu.

Sobre o autor Ver todas as postagens

Artur Laizo Escritor

Artur Laizo nasceu em 1960, em Conselheiro Lafaiete – MG, vive em Juiz de Fora há quatro décadas, onde também é médico cirurgião e professor. É membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete, Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas e presidente da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora - LEIAJF.

2 comentáriosDeixe um comentário

  • Incrível sua escrita, sua forma com que destrincha uma.cena..instigador, investigador, ora tenso e de uma realidade atual que chega a acreditar que a cena lida, esta acontecendo naquele momento.

Deixe um comentário para Alexandre Arco e Flexa Cancelar resposta

Seu endereço de email não será publicado. Os campos obrigatórios estão marcados *