MORTE NA RUA BRÁS BERNARDINO – 8º CAPÍTULO – Pão de Canela e Prosa
Pão de Canela e Prosa

MORTE NA RUA BRÁS BERNARDINO – 8º CAPÍTULO

Gilberto ficou sozinho por um tempo. Precisava pensar e juntar os dados que tinha. Ele havia descartado o casal de idosos e sua empregada também idosa. Eles não teriam razão para matar e nem força para jogá-la pela janela. Breno do apartamento seiscentos e cinco chegou quase na hora do lançamento da vítima pela janela e, segundo o porteiro, bêbado que não estava se aguentando em pé. Ele nem ouviu o que possa ter acontecido no apartamento ao lado. Os seis rapazes do apartamento quinhentos e dois, juraram que não saíram de casa desde que chegaram da universidade. Estavam juntos e bebendo em casa. Como disse Henrique: “Em uma quitinete, se alguém sair ou entrar, todos sabem”. Eram um álibi do outro. Mas todos eles haviam tido relações sexuais com a vítima exceto Pedro. Sislene do apartamento quinhentos e três disse que conversava com a vítima raramente sobre moda. Walter queria se casar com ela. Ele estivera no apartamento da vítima, segundo ele, mais cedo e a deixou com vida. Eles tomaram meia garrafa de vinho e transaram e ele foi embora. Na vistoria do apartamento, havia três garrafas vazias. Será que a festa continuou depois do “amante” sair com outro “príncipe”? Gilson e Cláudio estavam casados há quatro anos e parecia que um morria de amores pelo outro. Era um casal apaixonado. Que interesse teria um dos dois de matar a vizinha de prédio? No entanto, não dava para descartá-los ainda. Os quatro rapazes do apartamento duzentos e um também se davam cobertura. Todos diziam que estavam juntos todo o tempo. Um dava álibi ao outro. Laura era uma mulher esquisita, fechada, séria. Ela teria forças para jogar a vítima pela janela, mas teria motivos? Sueli e a mãe eram duas beatas loucas. Elas poderiam ter matado a vizinha até por ódio religioso. Ele sabia que a solteirona estava escondendo muitas coisas quando foi depor. Ela não era a pura que fazia questão de demonstrar. Como muita gente, ela se escondia atrás da religião para pensar e fazer muita coisa errada.
E a dose de Clonazepam no sangue da vítima e no copo de vinho. Quem tomava Clonazepam no prédio? Walter, Gilson e Sueli tomavam a medicação regularmente. Walter disse que tomou ao chegar em casa, mas ele havia bebido vinho, não daria problemas misturar? Gilson também tomava e relatou que precisava da medicação para relaxar do trabalho estressante que tinha. Sueli tomava como ansiolítico, talvez por não aguentar viver sozinha e com a mãe. O soldado Xavier lhe trouxera outras informações: A vítima era de Ubá, uma cidade vizinha a Juiz de Fora, assim como Cesar e Walter. O funcionário da biblioteca da Federal era também natural daquela cidade, apesar de não morar lá há mais de vinte anos, ele mantinha contato com parentes e amigos. A vítima morou em Ubá até a separação do marido e vir para Juiz de Fora para trabalhar. Será que eles se conheciam lá? E o marido?
_ Tenente – chamou o soldado Gonçalves entrando na sala do chefe, – eu consegui informações sobre o marido da vítima.
_ Que ótimo! Quem é ele? – perguntou o militar.
_ O nome dele é Agnaldo Faria Salles – disse o soldado mostrando o papel que trazia nas mãos.
_ Salles – lembrou o tenente, – alguém no prédio tem esse sobrenome também.
_ Não é um sobrenome incomum, Tenente – lembrou o soldado.
_ Mas não é também tão comum, Soldado.
_ Claro que não – concordou o soldado saindo.
_ Dos nossos suspeitos – começou a pensar alto Gilberto, – o Walter Gouveia Salles, mesmo nome do marido da vítima, é de Ubá, Gonçalves. Eles são parentes? O Cesar dos Santos também é de Ubá. Existe parentesco entre os três?
_ Vou conferir, Tenente.
O soldado saiu da sala do chefe e Gilberto abriu a planilha que fez com nomes e apartamentos.
_ Sobram – disse ele alto andando na sala – Walter, Sueli, Laura, Sislene e nesse grupo também Cesar. Estão excluídos como suspeitos o casal de idosos e a acompanhante, Breno, por estar tão bêbado que não teria forças para matar, a mãe de Sueli que, ele acreditava, falava mais que agia, Gilson e o marido Cláudio, não teria motivo de estragarem a vida a dois que todos que falaram a respeito deles diziam que eram um casal perfeito e ficava a dúvida em relação aos rapazes do apartamento duzentos e um, amigos de Cesar que poderiam estar dando cobertura ao ruivo, ou ao mesmo tempo poderiam ter matado a vítima e os rapazes do apartamento quinhentos e dois que por serem tão jovens, não teriam motivos para matar a vítima. O porteiro com certeza não seria o assassino.
Ele precisava juntar mais informações sobre essa divisão que acabara de fazer. Ele tinha três grupos mas ao mesmo tempo esses grupos poderiam se remanejar se houvesse alguma outra informação.
Ele precisava saber quem matou Fátima. Quem desses suspeitos teria motivo e força para matá-la. A solução poderia aparecer em uma reunião com todos eles. Mandou chamar Xavier e Gonçalves para marcarem uma reunião com todos eles.
Quem era o assassino? Ele já tinha uma ideia, mas precisava juntar motivo e oportunidade. Tomou mais um café e sentou-se à sua mesa. Enquanto todos dormiam ele resolveria o crime.
A copeira da delegacia entrou em seu escritório, sorriu para ele e deixou uma nova garrafa térmica cheia de café. Ele sorriu de volta à empregada. Precisava pensar.

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Artur Laizo Escritor

Artur Laizo nasceu em 1960, em Conselheiro Lafaiete – MG, vive em Juiz de Fora há quatro décadas, onde também é médico cirurgião e professor. É membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete, Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas e presidente da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora - LEIAJF.

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