O MISTÉRIO DA CASA MARROM – CAPÍTULO 2 – Pão de Canela e Prosa
Pão de Canela e Prosa

O MISTÉRIO DA CASA MARROM – CAPÍTULO 2

II

Mateus estava com fome e sede intensas pela longa caminhada durante todo o dia. Ele entrou na casa marrom, que se encontrava toda às escuras. O cheiro de uma comida saborosa chamou sua atenção e ele foi conduzido ao que parecia ser a cozinha. Ele não reparou por onde andava, mas o corredor que o levou à mesa era muito grande. A casa por fora não parecia ser assim. Ele também não observou as paredes escuras por sujeira ou fuligem. O cheiro que ele sentia era o cheiro da sua comida preferida. Ele se sentou à mesa e viu um prato de comida quente, como se o dono da casa esperasse por ele. Ao lado do prato um copo de água que lhe deu a sensação de ser a mais pura e a mais gelada que jamais houvera tomado na sua vida. Ele tomou o copo de água e o homem que andava em silêncio em volta da mesa o encheu novamente.
_ Obrigado – agradeceu ele olhando para o dono da casa que sorria ao vê-lo tão ávido para beber e comer.
_ Alimente-se, rapaz – disse o anfitrião.
Mateus olhou para o prato e viu que havia um Penne alla Bolognesi que era seu prato favorito. Ele se sentiu salivando de fome e de vontade de comer. Pegou o garfo que encontrou ao lado do prato e começou a comer. Deixou de perceber a sala escura e até mesmo deixou de sentir a presença do homem de cabelos brancos que ele nem sabia o nome.
Procurou por ele ao redor da mesa e resolveu deixar para perguntar depois quando ele aparecesse. Mateus comeu um pouco da massa e achou que faltava um pouco de sal. Mas ele estava com fome e na segunda garfada, o sal estava corrigido. Deve ter sido mal misturado, ele pensou e riu.
Entretido estava em comer e beber, tentando acabar a sua fome, não percebeu a figura estranha e demoníaca que se postava atrás dele. Os cabelos brancos do ser de quase dois metros de altura estavam impregnados de óleo e sujeira. Não deviam ser lavados há meses. O espectro absorvia todo o cheiro do corpo suado do rapaz. Depois do cheiro, o ser do mal começou a absorver a energia do corpo de Mateus.
O rapaz pensou que gostaria de um pouco de pimenta naquela massa e passou a sentir o cheiro doce da massa, o cheiro forte do molho de tomate e o gosto leve de pimenta. Ele sentia o que sua mente recebia como sugestão da mente do demônio que se pôs atrás dele na mesa e estava conectado à sua mente. E a face do homem se escurecia e clareava enquanto Mateus comia aquela mistura indefinida e mal cheirosa que lhe fora servida. Na sua mente, ele estava comendo o prato que mais amava.
O rapaz acabou de comer e tomou mais um copo daquela água salobra e quente que ele achava ser a mais pura e fria água que precisava tomar. Ele procurou pelo anfitrião que voltando à forma humana que o recebeu na portaria lhe sorriu.
_ Muito obrigado – ele sorriu também, – eu estava precisando de alimento e água.
_ Eu sei! Todos nós precisamos de alimento – corroborou o homem com outras ideias na cabeça.
_ Eu preciso ir embora – começou a falar Mateus.
_ Agora não é hora de enfrentar essa estrada sozinho – convenceu-lhe o homem de cabelos brancos e longos. – É muito perigoso.
_ Mas eu não quero incomodar…
_ Não vai incomodar – sussurrou o homem levantando as mãos.
Mateus sentiu-se sonolento e por pouco não bateu a cabeça no prato, não fosse o dono da casa a segurar seu rosto. – Você vai dormir e depois veremos o que você vai querer fazer.
Ele pegou o corpo musculoso do rapaz como se fosse uma coberta leve de cama e o levou para o porão da casa. Ao abrir o alçapão o cheiro era insuportável.

            

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Artur Laizo Escritor

Artur Laizo nasceu em 1960, em Conselheiro Lafaiete – MG, vive em Juiz de Fora há quatro décadas, onde também é médico cirurgião e professor. É membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete, Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas e presidente da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora - LEIAJF.

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