TECO – O BOI VERDE – PARTE FINAL – Pão de Canela e Prosa
Pão de Canela e Prosa

TECO – O BOI VERDE – PARTE FINAL

Maurício, o neto de Geraldo, saiu da fazenda adolescente e foi estudar na cidade de Juiz de Fora. O rapaz com vinte e três anos fazia faculdade de administração e nunca mais pensou em voltar a viver na fazenda para tristeza da família toda.
Vivia feliz e era um homem bonito, forte, com corpo musculoso de academia e muitas mulheres ao redor. Ele nunca teve uma namorada que durasse mais de dois meses. Trocava de mulher como trocava de roupas.
Um belo dia, enquanto caminhava na praça do bairro Bom Pastor, passou por uma moça loira, alta, linda, com um cachorro de raça Lulu da Pomerânia. Ele caiu de amores. Seu coração pulsou mais depressa, suas pupilas se dilataram e ele não conseguiu dar mais nem um passo. Fez de tudo que pode e antes do fim da sua caminhada estava conversando com a modelo mais linda que jamais viu na sua vida.
E o amor foi recíproco. Maurício pegou o cachorro no colo – Teco era seu nome – e isso fez com que ele ganhasse pontos no coração da moça.
Continuaram caminhando, ela, ele e o Teco.
Marcaram um encontro para a noite no Procopão e na hora marcada estavam lá, sentados em uma mesa da calçada, ele, ela e o Teco.
Onde quer que fossem, Kátia levava o Teco. Não havia um só lugar onde ela estivesse que o cachorrinho não a acompanhasse. Houve um desfile de modas do Independência Shopping e ela só concordou em desfilar se pudesse levar o Teco.
Maurício, à princípio, morto de amor, não se importou com isso. Namoraram dois anos, ele, ela e o Teco.
Noivaram por seis meses, ele, ela e o Teco.
Enfim, o casamento foi no jardim da casa dela porque nenhum padre permitiu que o Teco entrasse na igreja. E eles se casaram, ela, ele e o Teco.
Lua de mel na capital argentina. Buenos Aires conheceu ela, ele o Teco.
Uma vida a três em todos os lugares onde iam: sempre ela, ele e o Teco.
Um ano de casado e eles saíram para comemorar. Foram jantar em um restaurante que permitia a entrada de cães e lá estavam eles, lindos, ela, ele e o Teco.
A vida prossegue porque o tempo é implacável e eles fizeram dois anos de casados.
Maurício entrou em casa e disse à Kátia:
_ Marquei um restaurante ótimo pra gente comemorar nosso aniversário de casamento.
_ Hoje não vai dar – foi enfática ela – o Teco está doente e eu não vou deixá-lo sozinho.
_ Mas estamos fazendo aniversário de casados – tentou persuadi-la.
_ Não importa! O Teco está doente e eu não vou deixá-lo sozinho.
_ Mas…
_ Nada de mas! – finalizou ela. – Hoje eu vou ficar com o Teco.
Ele admitiu a opinião dela e se propôs a tomar um vinho sozinho, vendo alguma série na TV. Fazer o quê?
Três anos de casado e novamente ele queria comemorar. Chegou em casa efusivo e recebeu um balde de água fria:
_ O Teco está com febre! – disse Kátia rudemente. – Não vou sair com ele doente.
_ Não vou ficar em casa por causa disso! – gritou ele.
_ Vá comemorar sozinho – esbravejou ela.
_ Vou sim! – concluiu ele.
_ Você não me ama – chantageou ela.
_ Amo sim! – ele parou na porta entre o quarto e a sala e continuou: – Amo sim! Mas estou de saco cheio. Estou de saco cheio das suas futilidades e desse cachorro maldito.
_ Não chama o Teco de maldito! – gritou ela e começou a chorar.
_ Chamo sim! – gritou ele também. – Chamo essa merda do que eu quiser. E hoje encheu. Para mim basta! Vc vai ter que escolher ficar comigo ou com o Teco.
Imaginem qual foi a escolha: Katia escolheu o Teco.
Maurício saiu de casa e não sabia o que fazer. Arrumou um quarto no Serrano Hotel até ver o que faria da vida. Comprar uma casa nova? Um apartamento? Ainda teria tempo para decidir.
Sentiu-se sozinho na primeira noite. Não dormiu esperando que a qualquer momento receberia uma lambida do Teco, mas isso não aconteceu. Sorriu pensando que estava livre do cachorro maldito. Mas ainda assim, sentiu falta e não dormiu.
A semana toda ele passou trabalhando e retornando pro hotel com uma sensação de vazio: sentia a falta do Teco. Ria para esconder a falta e dizia; Livre daquele cão.
Saiu para beber no fim de semana com amigos. Saiu sem o Teco. Flertou com uma ruiva como nos velhos tempos. Dormiu até tarde no domingo e tomou uma decisão: Vou viajar! Pensou ele.
Comprou passagens aéreas para Natal e se preparou para a viagem como se fosse a primeira de sua vida. Roupas na mala, roupa nova no corpo, tomou um Uber até o Aeroporto Itamar Franco em Goianá e sorriu: Enfim livre da mulher, mas principalmente livre do Teco!
O checkin foi feito e ele entrou no avião pequeno que o levaria de Juiz de Fora à São Paulo pra começar a viagem.
Sentou-se em uma poltrona à janela. Olhou pra fora. Viu o aeroporto pequeno, mas bem estruturado. Olhou o céu limpo do mês de julho. Espreguiçou-se e sentiu a sua liberdade. Sentiu também que alguém se sentara ao seu lado.
Quem era?
Ele olhou para o lado e levou um grande susto.
Quem estava sentado ao seu lado?
_ O Teco – vocês me responderiam.
Enganaram-se todos.
Maurício nunca tinha visto, mas ao seu lado estava sentado o “Boi Verde”.

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Artur Laizo Escritor

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