VAMPIRO – Pão de Canela e Prosa
Pão de Canela e Prosa

VAMPIRO

 

Ele saiu do quarto escuro e cambaleante andou pela rua também escura. Ele não conseguia ver nada a frente, mas sabia que deveria seguir em frente. A noite estava escura e a lua há muito se escondera para não ser cúmplice daquilo que iria acontecer. Ele não bebera demais, mas sabia que não estava normal. Havia alguma coisa na sua corrente circulatória que mantinha seu cérebro torpe, mas ao mesmo tempo vigilante. Ele poderia andar duzentos mil quilômetros e ainda assim não se cansar. Ele poderia passar dias sem dormir e ainda assim não sentir sono. Ele não sabia há quanto tempo não se alimentava e mesmo assim ele queria somente ir em frente naquela rua escura.

O vento parara de soprar e o cheiro do perfume no ar impregnava seu olfato, seus poros e sua roupa. O cheiro era forte, cheiro de mato, ele não conseguiria distinguir. Era um cheiro bom, mas o deixava preocupado. Ele sabia que quando aquele cheiro invadia as ruas, algo ruim estava para acontecer.

Ele andou mais um pouco e um ronco fez com que ele se assustasse: era fome. Há quanto tempo ele estava procurando se alimentar e não conseguira nada. Onde estavam as pessoas que moravam e transitavam por aquelas ruas? Onde ele estava indo? O que poderia fazer? Sabia que tinha que ir em frente. Sabia que mais alguns metros a frente encontraria a resposta daquilo que procurava saber. Ele tinha de continuar andando. Passos cambaleantes cada vez com mais dificuldade devido a menos energia. Ele iria sucumbir àquele momento. Ele não iria conseguir chegar onde deveria. Mas o cheiro continuava forte. Patchouli. Ele se recordou do perfume. Sabia que havia acontecido alguma coisa com ele e com alguém mais que exalava aquele perfume. Patchouli!

O que acontecera? Ele estivera bêbado demais para perceber o que acontecera com ele. Sentia uma queimação no pescoço, passou a mão. Algo ainda ardia nas duas feridas que ele trazia sobre a jugular direita. O que acontecera? Ele precisava descobrir o que ele queria.

Andou um pouco mais e chegou a um cruzamento de duas ruas iluminado por um poste com uma luz fraca. Havia um vulto parado sob o poste. Um homem que, vestido de negro, exalava o perfume. Quanto mais ele se aproximava do homem mais forte ficava o perfume. Ele sabia que conhecia aquele ser e precisava de informações. Continuou andando em direção ao homem com passos irregulares e sem sustentação. Continuou andando.

Parou a poucos metros do ser de negro e perguntou: O que está acontecendo comigo? O homem de negro olhou para ele com olhos vermelhos brilhantes, emoldurados pelos cabelos negros e longos naquele rosto que de tão branco refletia a luz do poste. Ou será que ele teria luz própria? Venha aqui, disse ele.

O rapaz indeciso e bêbado não sabia o que fazer, mas não tinha forças para recusar. Deu mais alguns passos e viu nos braços do ser de negro uma mulher loira que parecia igualmente bêbada, mas que sangrava no pescoço. Está na hora de você completar a sua transformação. Tome do sangue dela e será como eu. Terá a vida eterna e poder ilimitado.

Ele não podia resistir. Aproximou-se do ser que lhe deu o corpo da mulher para que ele sugasse o resto de sangue que ainda havia ali. Ele não podia resistir à fome, ao desejo, à ordem daquele vampiro que o transformava.

Texto relacionado ao livro “A Mansão do Rio Vermelho”.

Foto do Filme: O Vampiro Lestat – Tom Cruise e Brade Pitt

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Artur Laizo Escritor

Artur Laizo nasceu em 1960, em Conselheiro Lafaiete – MG, vive em Juiz de Fora há quatro décadas, onde também é médico cirurgião e professor. É membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete, Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas e presidente da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora - LEIAJF.

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