VIVA MADRI – Pão de Canela e Prosa
Pão de Canela e Prosa

VIVA MADRI

Ele não sabia aonde ir.

Estava parado naquela praça, cheia de pessoas que passavam de um lado para o outro e corriam e riam e brincavam e se divertiam, mas ele não sabia aonde ir. Acabara de chegar naquele lugar desconhecido, com gente desconhecida. Tinha sorte, ou merecimento, de falar a língua daquele país e conhecer a história toda.

Chegou à praça principal e esperava encontrar com a sua amada que morava ali há mais de dois anos. Eles estavam separados desde que ela viajara para morar na Espanha, mas ele não perdeu a esperança de reatar o namoro, reatar o amor e se casar com ela. Mandou-lhe uma mensagem no whatsapp, dizendo que chegaria naquele dia, e marcou a hora para encontrarem-se na praça.

Ele andou um pouco entre a multidão de jovens bonitos e bem vestidos que se divertiam na noite de sábado de Madri. Era uma praça imensa e estava muito frio. Ele trouxera um presente para entregar à sua amada. Será que ela apareceria? Será que ela voltaria a ama-lo? Dúvidas e mais dúvidas rondavam sua cabeça e ele não sabia o que esperar. Cansado da distância, cansado de tentar falar com Elisa, mesmo por mensagens eletrônicas cada dia ficava mais difícil, Rodolfo resolveu deixar o calor do Rio de Janeiro e ir para Madri para encontrar-se com ela.

Em uma das poucas vezes que ela respondera suas mensagens nos últimos tempos, disse a ela que estaria ali naquele momento. A Plaza Mayor de Madri era um amplo espaço rodeado por cafés e restaurantes. Ele lhe havia dito que esperaria por ela perto do Monumento em homenagem a Felipe III. Ele estava deslumbrado pelo movimento da praça àquela da noite e por pouco tempo até deixou de pensar em Elisa e passou a olhar as moças lindas de todos os países que passavam por ali.

Mas não. Ele estava em Madri para reencontrar o seu amor maior. Tinha que refazer sua relação amorosa e pedir a jovem para se casar com ele. Ele fora o seu primeiro namorado e depois dela, ele não namorara mais ninguém. Ela tinha que aceita-lo de volta. Ele a conhecia como ninguém. Ele a amava como jamais amara alguém na vida.

Ele esperou. Não mais do que deveria se tivesse chegado no horário marcado, mas ele se precipitou e chegou duas horas antes. Ele esperou e quinze minutos depois do combinado, ela chegou. Elisa não estava sozinha, mas tinha um rapaz com ela. Eles estavam de mãos dadas e Rodolfo achou muito estranho isso. Ela estava mais bonita, mais magra, parecia mais alta e estava maquiada. Elisa não se maquiava nunca.

Ela se aproximou com o rapaz que ele deduziu ser seu namorado e sorriu para ele. Ele sorriu para ela e foi ela quem falou primeiro:

_ Rodolfo, seu louco, o que te deu de vir para Madri?

_ Eu queria viajar um pouco – mentiu ele. – Vou para outros lugares depois.

_ Que bom! Esse aqui é o Juan, meu namorado. Ele mora aqui em Madri, mas nasceu em Barcelona. A gente se conheceu no curso que faço aqui.

_ Como vai, Juan? – perguntou Rodolfo usando o espanhol que dominava muito bem. – Espero que estejam se dando muito bem.

_ Sim, com certeza – respondeu ao cumprimento o espanhol.

Conversaram de trivialidades, falaram de países, de cultura europeia, de um tudo. Mais tarde depois de tomarem um vinho em um restaurante da praça, Elisa disse a ele que precisava ir pra casa, que deveriam acordar cedo no dia seguinte e ele percebeu que moravam juntos. Se não moravam juntos, dormiam juntos pelo menos. Ele estava fora! Ele estava fora, sozinho em um país estrangeiro, sem ninguém!

Saiu andando pela praça antes de voltar para o hotel e parou para tomar um vinho em um daqueles restaurantes da praça. Não importaria qual, não faria diferença. Seu mundo estava destruído e ele estava perdido nas ruas de Madri. Vontade de chorar. Pensou rapidamente em se matar, mas isso era bobagem.

Queria ficar bêbado! Queria esquecer o que vira. Queria esquecer que Elisa estava com outro namorado que não ele. Ele estava em Madri e tivera um gasto grande para chegar ali. Investira o que pôde para fazer a viagem e estava ali sem ninguém. Mas ele investira para encontrar com Elisa na cidade que ele sempre sonhara visitar.

Ele estava na cidade que ele sempre sonhara visitar. Queria estar ali há muito tempo e agora ele estava em Madri. No centro lindo de Madri, cheio das pessoas lindas que transitavam pelas ruas de Madri e ele se queixando da vida.

Levantou a taça de vinho nacional tinto e delicioso, fez um brinde à noite e resolveu que ele iria se divertir em Madri. Ainda bem que ele não entregara a Elisa o presente que ele trouxera para ela e que ainda estava em seu bolso. Trouxera para Elisa o anel que era da sua mãe. Ele queria pedir a sua mão em casamento. Viva Madri! Pensou de repente.

_ Viva Madri! – gritou levantando o copo e brindando à praça.

Uma pessoa ao longe respondeu: – Viva Madri!

Uma outra do outro lado o imitou.

 

_ Viva Madri – gritou ele de novo e novamente levantou a taça de vinho.

Dez, cem, mil pessoas na praça e nos bares responderam ao seu brinde. E repetiram e ele repetiu e todos repetiram em uníssono.

Viva Madri! Ele estava em Madri e iria se divertir na cidade que ele sempre sonhou conhecer. Viva Madri!

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Artur Laizo Escritor

Artur Laizo nasceu em 1960, em Conselheiro Lafaiete – MG, vive em Juiz de Fora há quatro décadas, onde também é médico cirurgião e professor. É membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete, Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas e presidente da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora - LEIAJF.

1 comentárioDeixe um comentário

  • Muito bom, Artur!

    Você consegue nos transportar para as histórias, nos faz enxergar as cenas e imaginar o rosto dos personagens…

    Grande abraço!

    Silvana Munaier

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