FELICIDADE – Pão de Canela e Prosa
Pão de Canela e Prosa

FELICIDADE

Um aluno me perguntou hoje enquanto duscutíamos sobre a profissão de médico:
_ Professor, o senhor é feliz?
Segundo ele, a sua maior preocupação é fazer um curso tão intenso – em todos os sentidos -, ter uma profissão onde você é um médico vinte e quatro horas por dia, se não for mais umas horas extras, e, depois de tudo ser infeliz.
Pensei nisso o dia todo e resolvi escrever a resposta.
O que, na verdade, é ser feliz?
Buda afirmou em uma de suas máximas de vida que “felicidade é o oposto do desejo”. Será que isso é totalmente verdade e, para ser feliz, o indivíduo deva se contentar com o que tem e não buscar mais. Contentar-se e estagnar-se onde se encontra e não fazer mais nada em prol do seu crescimento. É feliz aquela pessoa pacata que a vida lhe deu tudo que ela pode sonhar e, por não conhecer mais nada, o pouco que tem é suficiente para não questionar a vida?
O conhecimento, feliz ou infelizmente, tráz anseios e desejos de fazer mais. Quanto mais crescemos, mais queremos fazer em prol de outrem ou de nós mesmos, mas isso gera ansiedade e a ansiedade destrói a felicidade.
Pode-se ser feliz o tempo todo? Nunca! Não há uma estabilidade emocional individual e nem das pessoas que nos cercam para ficar tudo ótimo o tempo todo. Desde que o homem viva em sociedade, em meio à família, convive com pessoas, ele ama, gosta, não gosta e até odeia alguém. O sentimento desestabiliza o ser humano. Se você ama, sente falta da pessoa amada e esquece da individualidade dela, querendo que ela seja exclusivamente sua, corpo e alma. Se você odeia, se preocupa em saber o quanto a vida do outro está ruim, ou boa – aí é pior!
Na profissão, há pessoas que atingiram o máximo do que querem fazer e jamais vão tentar melhorar. Mudar significa sair da zona de conforto e isso dá muito trabalho! Há profissões em que você tem que se mostrar, tem que estar à frente de todos, tem que se destacar e para isso, tem que estar sempre atualizado, sempre produzindo, sempre estudando. Um médico não vai nunca, cumprir as suas horas de plantão e deixar o jaleco pendurado no prego da parede e vai ser outra coisa. Até pelado, ou fazendo amor, de férias no estrangeiro o médico é sempre um médico. Não dá para dissociar e ser outra coisa.
No amor, médico também ama e odeia. E a pessoa que o médico ama disputa igualmente seu lugar no coração do camarada com sua outra paixão que é a Medicina. Se a pessoa que ama esse ser dividido não compreende essa relação à três, não serve para amar o médico.
Dá pra ser feliz e ser médico? Dá pra ser feliz e ser um ser humano? Dá pra ser feliz e viver nesse “mundo de meu Deus”?
Felicidade, enfim, é uma questão de escolha! A pessoa opta por ser feliz. Não existe ninguém que possa fazer a outra pessoa feliz. Se você não é feliz, no entanto, facilmente fará com que a pessoa que convive com você seja infeliz.
Como disse, ser feliz é questão de escolha. A vida é feita de escolhas. Você é totalmente responsável por suas escolhas…
Se escolheu mal, mude. Se não está contente com o que vive e isso não lhe tráz felicidade, faça outra escolha. Sempre é tempo de resolver as coisas. Mas não reclame de suas escolhas se você não quer mudar.
Enfim, o que dizer como resposta ao meu aluno?
Como explicar se sou ou não feliz. Não cheguei ainda no meu máximo. Quero mais! Aliás, quero muito mais e por isso, vou parafrasear Cazuza:
“Só as mães são felizes.”

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Artur Laizo Escritor

Artur Laizo nasceu em 1960, em Conselheiro Lafaiete – MG, vive em Juiz de Fora há quatro décadas, onde também é médico cirurgião e professor. É membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete, Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas e presidente da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora - LEIAJF.

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