O homem de terno correu e atravessou a rua mesmo com o sinal estando aberto para pedestres. Ninguém observou nada de anormal, mas do outro lado da rua o homem do terno foi abalroado por um homem sem terno, mais novo, mais magro, que indagou:
_ Por que o senhor correu se o sinal estava fechado?
_ Porque eu estou com pressa – respondeu o homem. – Preciso andar depressa.
_ Mas o senhor não tinha que esperar que os carros passassem, por que correr para andar depressa?
_ Porque eu estou com pressa. Preciso andar depressa.
_ Mas se é para andar depressa, não pode correr. Por que o senhor correu devagar?
_ Porque eu estou com pressa. Preciso correr, eu estou com muita pressa.
_ E por que, se está com pressa, correu devagar?
_ Porque eu não posso correr depressa.
_ E por que não pode correr depressa?
_ Porque corro devagar.
_ E por que não anda devagar?
_ Porque preciso correr devagar ou andar depressa. Preciso mesmo é ganhar tempo…
_ Por que não joga na loteria do céu?
_ Como é que é, companheiro? – perguntou o homem do terno.
_ Se jogar na loteria do céu, quem sabe você não ganha tempo?
_ Eu preciso ir rápido.
_ E vai rápido correndo devagar ou andando depressa?
_ Não sei! Eu preciso chegar.
_ Mas, meu senhor, se precisa chegar, o que está fazendo parado aqui na esquina?
_ Não sei!
_ Por que não sabe?
_ Talvez não tenha que saber – responde o homem de terno. – Preciso chegar rápido.
_ Parar de correr devagar e andar depressa? Continuar em frente.
_ Mas depressa ou devagar? Correndo ou andando?
_ Não sei! – responde o sem terno.
_ Nem eu – responde o de terno.
_ Mas você tem que ir…
_ Ei sei – responde o de terno.
_ E por que não vai? – pergunta o de camisa.
_ Já não sei se quero – responde o de gravata.
_ Acho que deveria ir correndo – diz o de chinelo.
_ Correndo depressa? – pergunta o de sapato de verniz.
_ Talvez andando devagar você não vai chegar…
_ É, também acho…
_ Para onde você vai? – pergunta o de bermudas.
_ Para o aeroporto – responde o de calças de linho olhando o relógio. – Mas não vou mais. Se correrdevagarandandodepressamnão adianta mais. Meu avião já partiu.
_ Sinto muito – diz o de camisetas.
_ Eu também – diz o de camisa de seda.
_ E agora?
_ Agora, eu não sei mais…
_ Que tal um taxi?
_ Claro! Um taxi! Taxi!
O homem do terno, já sem gravata, entra no taxi e não sabe mais se diz onde vai, ou se não vai onde deve ou se não sabe nada do que fazer.
Olha para fora e ainda vê o moleque que da rua lhe sorri e pergunta:
_ Depressa ou devagar?
O homem do terno se desespera, olha para o motorista e diz quase suplicando:
_ Segue aquele avião!
Maloca Querida, 1998:63-6.