– Eu não me caso!
– Por que não, cara?
– Por quê? Imagina você: – a gente se casa e aí se acostuma a ser casado.
– Certo! Qual o problema?
– O problema é que enche o saco e aí tem que se separar.
– Mas pensando assim, meu amigo, não vai dar certo nunca!
– Eu sei! Mas aí tem que separar e separa.
– Separa, uai, e pronto!
– Mas aí você já se acostumou a ser casado e deve ser muito chato ser separado e voltar a ser sozinho.
– É, tem esse lado…
– Aí a gente se casa de novo porque se acostumou a casar e ficar casado.
– Perfeito! Até aí, tudo ótimo. Quem sabe na segunda vez?
– Quem sabe nada, cara. Imagina que você foi casado, acostumou-se a ser casado, já se separou e se acostumou a ser separado…
– E daí?
– Daí que a gente se separa de novo porque se acostumou também a se separar e viver separado deve ser bom.
– Mas casou-se de novo?
– É claro! E não se acostumou a se casar?
– Sim, mas…
– Se se acostumou a se casar, recasa, mas na hora mesmo dá vontade de se separar e aí se separa.
– E volta a ser separado?
– O que na realidade não vai dar certo porque você já se acostumou a se casar e aí você tricasa.
– Quem sabe dessa vez seja para sempre?
– Acredito mesmo que o “pra sempre” seja o “separa-casa”, “casa-separa”, porque se você olhar bem, a gente já está na trisseparação e poli, penta e a vida será sempre infinitesimalmente “casa-separa”.
– Mas será mesmo?
– Claro! Eu tenho a teoria certa: quem se casa jamais conseguirá ser um solteiro feliz!
– Como assim?
– Ou você se casa e casa, ou você começa separando que quem sabe solteiro separado não seja melhore do que casado junto pensando que seria melhor ser separado namorando que poderiam estar fazendo mil outras coisas e não conseguirão nunca mais ser independentes de outras pessoas.
– Pode ser… Você é louco?
– Pode ser! Mas sou solteiro.
Maloca Querida, 1998:107-9.