MORTE NA RUA BRÁS BERNARDINO – CAPÍTULO 3 – Pão de Canela e Prosa
Pão de Canela e Prosa

MORTE NA RUA BRÁS BERNARDINO – CAPÍTULO 3

Gilson Carlos Rodrigues e o marido Claudio Fonseca eram casados há quatro anos, moravam no apartamento quinhentos e seis desde que se casaram. Gilson tinha trinta anos era professor de Geografia na Universidade Federal e Claudio ensinava matemática no Colégio Pio XII no centro da cidade.
Primeiro entrou Gilson. O rapaz de cabelos pretos, olhos castanho escuro entrou sorridente na sala do tenente. Sentou-se confortavelmente e não aceitou o café que o militar lhe ofereceu.
_ Você conhecia a vítima? – perguntou o tenente.
_ Sim – começou ele, – em um prédio pequeno como aquele, a gente acaba conhecendo todo mundo. Muito embora – ele afirmou firme, – meu contato e do Cláudio com ela era apenas encontros no elevador na hora de sair para trabalhar ou na hora de chegar. Eu nem sabia o nome dela até o senhor me informar nessa madrugada.
_ Entendo. O senhor nunca se indispôs com ela? Estou dizendo coisas como reclamar de barulho, ou de colocar lixo fora do lugar…
_ Não, Tenente. Moramos em andar diferente. Ela morava no apartamento seiscentos e dois e nós no quinhentos e seis. Quase nem nos víamos por isso mesmo – explicou o professor de Geografia.
Cláudio entrou depois do marido e nada teve a acrescentar.
_ Chegamos cansados em casa ontem, Tenente. Ficamos vendo um seriado na televisão. Eu comecei a cochilar e fomos para cama. Apagamos até o acidente – explicou ele. – Eu, principalmente, tomei um Clonazepam e só fui acordado por vocês.
Não havia o que pudessem acrescentar os dois professores. Foram liberados do depoimento, mas Gilberto disse que se precisasse voltaria a vê-los.
Depois do casal, Laura Resende entrou na sala do militar. Estava nervosa. Ela era uma mulher não muito gorda, mas com um corpo avantajado e as roupas exuberantes não disfarçavam as curvas exageradas. Era solteira, não tinha ninguém e trabalhava como vendedora nas lojas do Magazine Luiza. O tenente Gilberto lhe ofereceu um café, tentando acalmar a mulher que arrumava o tempo todo o cabelo negro e grande, mas ela não aceitou alegando que se tomasse café não conseguiria dormir. Dormir, pensou Gilberto, o que é isso mesmo?
_ A senhorita conhecia a vítima? – perguntou ele.
_ Não, senhor – respondeu ela achando muito estranho o “senhorita”. – Eu conheço muito pouco meus vizinhos. Saio cedo pro trabalho e volto pra casa e só saio no dia seguinte pra trabalhar de novo. Não gosto de ficar me metendo na vida dos outros. E nem gosto de ninguém me incomodando também.
_Mas via a senhorita Fátima, de vez em quando.
_ Devo ter visto ela umas duas vezes esse ano, Tenente. Acho que nossos horários não eram os mesmos.
_ Senhorita Laura, não existe nada que possa me dizer, além disso?
_ Não, Tenente. Eu não sei quem a matou. Posso garantir ao senhor que eu não fui – ela deu um sorriso tímido.
_ Nunca soube ou viu a vítima discutindo ou reclamando com ninguém? – insistiu ele.
_ Eu vi ela reclamando daqueles dois homens que moram juntos no quinto andar.
_ Ah, é? – incentivou Gilberto.
_ Ela estava dizendo para aquele moço que trabalha na biblioteca que ela achava um absurdo eles juntos.
_ Ela era homofóbica? – perguntou Gilberto, mas ante a expressão facial da interrogada, explicou: – Não gostava de relacionamentos gay?
_ Acho que não, Tenente – respondeu a mulher.
Mais uma pessoa que não tinha nada a acrescentar, apenas suscitou uma intriga. Teria havido brigas com o casal de professores? Eles não disseram nada. Ela era uma mulher robusta que poderia ter matado a vítima. Qual o motivo teria? pensou Gilberto.
Ele estava convicto que passaria o dia ouvindo histórias que não lhe trariam frutos para desvendar o crime. Era persistir nisso.
Soldado Gonçalves aproveitou que o tenente estava sozinho e bateu à porta. Entrou e informou ao chefe:
_ Terminamos a vistoria no apartamento da vítima. Nada de importante. Ela era uma pessoa que morava sozinha mesmo. Não havia roupas ou outras coisas que pudessem falar de outra pessoa morando ali. Quem esteve com ela, pagou a pizza, mas a pizzaria informou que foi pago com dinheiro. O pedido foi feito pelo telefone fixo. Havia somente três garrafas de vinho que foram consumidas. As rolhas estavam sobre a pia. Não temos mais nada no apartamento.
_ Muito bem, Gonçalves. Muito obrigado. Eu estou esperando o DNA que o Paulo está processando.
_ Pelo menos, coletamos amostras de todo mundo que estava no prédio – informou Gonçalves.
_ Ótimo – Gilberto gostava da sua equipe.
O legista entrou na sala de Gilberto e lhe informou que o DNA era de Walter Gouveia Sales, morador do apartamento quinhentos e cinco. O militar gostou da notícia, algum dado positivo. O coordenador da biblioteca da Universidade Federal poderia estar tendo um relacionamento com a vítima e depois do amor, tiveram uma briga. Ele era uma pessoa que poderia jogar o corpo de Fátima pela janela facilmente.
O assassino estrangulou a mulher e não contente com isso jogou o corpo pela janela da frente. Deve ter tido muita raiva e a briga deve ter sido intensa. Como pode ninguém ter ouvido nada em um prédio de apartamentos tão pequenos? Pensou ele.

         

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Artur Laizo Escritor

Artur Laizo nasceu em 1960, em Conselheiro Lafaiete – MG, vive em Juiz de Fora há quatro décadas, onde também é médico cirurgião e professor. É membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete, Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas e presidente da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora - LEIAJF.

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