MUDANÇAS NA VIDA – CRESCIMENTO – Pão de Canela e Prosa
Pão de Canela e Prosa

MUDANÇAS NA VIDA – CRESCIMENTO

Eu falo muito que eu gostaria de voltar para meus dezesseis anos, mas melhor seria falar de 1973 e 74 – quando eu tinha doze/treze anos. Morava ainda em Conselheiro Lafaiete – MG, onde nasci.
Acho que foi nessa época da minha vida que tudo começou a mudar.
Em 1973, eu escrevi meu primeiro romance “LEMBRANÇAS DO ORIENTE”. Havia inicialmente uma influência de Clarissa – de Érico Veríssimo – na criação de Patrícia nas primeiras páginas. Após a morte de sua mãe, Patrícia já assumiu completo poder sobre sua personalidade e ações. Estava ali definida a minha carreira como escritor. Eu escrevi um livro e estava muito feliz.

Antes desse romance, aos dez anos, eu datilografei um conto, ou sei lá o tamanho da história, em papel fino, montei um livro, fiz uma capa de papelão ondulado com um desenho meu na capa. Coloquei o ” livro” na estante e disse orgulhoso: “Meu primeiro livro”. Depois de algum tempo joguei fora aquela “primeira obra”.
Foi aos doze anos que fui convidado pelo meu professor de matemática, José Carlos Beato, para ir à sua casa em um sábado chuvoso pela manhã e aprender a trabalhar as minhas poesias. Ele leu algumas de minhas poesias e se interessou por elas. Aquele garoto pequeno e tímido passou a manhã sentado, entre o professor de matemática e o professor de português, Zequinha Laporte, aprendendo sobre poesia parnasiana, sonetos e afins. Saí de lá apaixonado pelo Olavo Bilac e conversava contando as sílabas métricas nos dedos.
Em 1974, eu comecei a pintar. Eu parei ali de pintar decoração de festas em isopor e guache e começava a ter contato com telas e tintas a óleo. Matriculado na escola de pintura da professora Cidinha Dutra, comecei logo a pintar uma tela de 41×27 centímetros. Uma paisagem da Amazônia. Também naquele momento começava minha vida de pintor de quadros. Nunca mais parei de pintar
Em 06 de outubro, eu caí na varanda de casa. Andava de Skate na rua sem problemas, naquele dia, resolvi andar na grande varanda da minha casa. Resultado: skate para um lado e eu para outro. Quebrei os dois ossos do antebraço. Gritei minha irmã e ela desapareceu com o projeto de skate que eu mesmo montei. Nunca mais o vi. Aí então, gritei pai e mãe. Eles chegaram, improvisaram uma tipoia com um lenço de cabelos grande e me levaram para o Hospital e Martenidade São José. Fomos a pé. O hospital ficava a dois quilômetros de minha casa, mas não havia ônibus que passasse por lá e nem tínhamos dinheiro para pagar um taxi.
Chegando ao Hospital, fui imediatamente bem atendido e internado. No mesmo dia o ortopedista que me atendeu fez a redução incruenta dos ossos quebrados. Acordei da anestesia com um gesso que imobilizava minha mão, punho, antebraço, mas me deixava livre a articulação do cotovelo. O médico, Dr. Geraldo Batista, não conhecia o paciente que tinha em mãos para tratar.
Saí do hospital no dia seguinte e, depois de uns cinco dias confinado, parou de doer e – como eu sempre fui e sou hiperativo – baixei o braço e fui viver minha vida. Nunca joguei futebol na vida, fora isso, participava de outros tipos de jogos e brincadeiras na rua de casa com outras crianças da minha idade.
Quando chegou o dia de tirar o gesso, claro que meu antebraço estava consolidado errado e eu não tinha movimentos no punho e nem conseguia fazer pronossupinação. Estava aleijado! Pensei. O médico olhou, radiografou e deu seu veredito: Vai ter que ser operado!
Eu estava em semana de provas na sétima série e por isso mesmo pedi que fosse submetido à cirurgia na outra semana.
Fui para a escola a semana toda com uma faixa de crepom enrolada no antebraço para esconder o “defeito”. Na época eu estudava no Colégio Estadual Narciso de Queirós.

Na semana seguinte, lá estava eu novamente internado e sendo submetido a uma cirurgia para quebrar os ossos e colocá-los na posição correta. Na época, não existia fios de titânio para correção de fraturas ou placas. Os ossos foram colocados no lugar e novamente meu braço imobilizado até antes do cotovelo. Dessa vez eu fiz uma tipóia e até dormir ou tomar banho era com o apoio de pano.
Quando tirei o terceiro gesso, estava fazendo exatamente dois meses que tinha quebrado os ossos. Quando tirou o gesso, meu antebraço esquerdo era metade da grossura daquele da direita: Hipotrofia por desuso. Fazer o quê? Na época não havia fisioterapia. Meu professor de Educação Física, Seu Erotedes, combinou comigo e eu ia todo dia de manhã à sua casa – estávamos de férias do colégio -, ele fazia movimentos com meu braço, massagens como um bom fisioterapeuta faria hoje em dia e me mandava para a piscina do clube que eu frequentava. Eu nadava por horas e em menos de um mês os braços se igualaram.
Por causa da fratura, eu tive que parar de ter aulas de pintura com a Cidinha, mas tão logo pude, continuei pintando sozinho em casa.
Enfim, os anos de 1973/74 foram anos muito especiais. Muitas coisas aconteceram nesses dois anos tão importantes para eu ser o que sou hoje. Claro que de muitas pessoas importantes que passaram pela minha vida nesse ano eu não falei ainda. Nem citei aqui as meninas pelas quais eu estava interessado e nem falei da primeira namorada.
Fica para a próxima! Depois eu falo de quando eu tinha dezesseis anos.

Sobre o autor Ver todas as postagens

Artur Laizo Escritor

Artur Laizo nasceu em 1960, em Conselheiro Lafaiete – MG, vive em Juiz de Fora há quatro décadas, onde também é médico cirurgião e professor. É membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete, Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas e presidente da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora - LEIAJF.

6 comentáriosDeixe um comentário

Deixe um comentário para Marisa Pontes Cancelar resposta

Seu endereço de email não será publicado. Os campos obrigatórios estão marcados *