O BOI VERDE – Pão de Canela e Prosa
Pão de Canela e Prosa

O BOI VERDE

Não me lembro mais quem criou o conto, mas lembro que contávamos sempre ele nas nossas rodas de conversa na faculdade há alguns anos. Era muito divertido e muita gente adorava. Enfim resolvi relatar “O caso do boi verde”.

Era uma fazenda próspera com criação de gado e grande extensão de terra. O dono da fazenda, um gordo matuto por volta dos cinquenta anos de idade era um bom patrão e todos o respeitavam muito.
Casou-se cedo e, por isso mesmo, tinha filhos adultos, casados, com filhos, que já cuidavam da fazenda, cada um dos três em um setor diferente. O maior rendimento, no entanto, vinha da criação de gado e era ali que investiam mais.
Os bois e vacas cresciam gordos e saudáveis no imenso pasto verdejante que envolvia toda casa de dois andares construída no século 18 quando Minas Gerais ainda era grande produtora de café e algumas excursões se faziam em busca de ouro e pedras preciosas.
Geraldo herdara a fazenda do pai que a herdara do avô e bisavô, enfim, a casa pertencia à família há três séculos desde sua construção. O dono da fazenda não se interessava de sair de sua propriedade para fazer nada fora daquele pedaço de terra. Assim criou a esposa, os filhos, noras e atualmente os netos.
Um belo dia, o sol estava nascendo no horizonte e ele já estava na varanda imensa da casa respirando o ar puro da manhã, um empregado entrou pelo portão e subindo as escadas esbaforido comunicou ao patrão:
_ Patrão – tossiu, respirou fundo, mostrando nervosismo e cansaço, – o senhor precisa vir até o curral agora.
_ Por que, Manuel? O que aconteceu? – perguntou ele preocupado com o nervoso do empregado.
_ O senhor tem que ver… – respirou ofegante o empregado.
_ Ver o quê, homem de Deus?
_ Ver o… ver o…
_ Ver o quê? – perguntou novamente o patrão.
_ Nasceu um bezerro verde – desabafou o empregado.
_ Verde? Você enlouqueceu, Manuel? – perguntou ele bravo.
Saiu atrás do empregado andando depressa, o mais rápido que a vida sedentária e a barriga volumosa o permitiam e chegou ao curral. Olhou para onde o empregado apontava e viu um bezerro verde. Não acreditou no que via e se aproximou. A vaca, mãe do animal, mugiu, mas não opôs resistência à aproximação do dono. Ele olhou o bezerro ainda fraco no chão e viu que era mesmo verde. Será que é líquido da barriga da vaca? Pensou. Pode ser da alimentação da mãe do pobre animal. Mas será que ele é mesmo verde? Mandou lavar o animal e quanto mais limpo, mais verde o bezerro ficava. Não tinha solução! O bicho era mesmo verde.
_ Cuide do bezerro, Manuel – ordenou ele. – É um bezerro verde.
Voltou para a casa grande preocupado, mas ao mesmo tempo intrigado com o que aconteceu. Onde já se viu um bezerro verde?
Resolveu que iria criar o bezerro com muito mais atenção que todos os outros bezerros da fazenda. Que iria fazer com que ele se transformasse no maior e melhor boi verde jamais conhecido no mundo. Ele iria rodar o mundo com ele. Iria ganhar muito dinheiro com o Boi Verde. Ele seria a atração principal de qualquer festa agropecuária. Iria ser o mais conhecido fazendeiro do mundo.
Todo dia então, ele ia ao curral ver o Boi Verde e lhe dava a atenção que não dava aos outros animais. Todo dia ele acarinhava o animal que via crescer com toda saúde e força necessários. Ele se encantava com o animal. Preferia o bezerro quase boi aos netos que cresciam e estavam indo embora para a cidade para estudarem e fugir da vida no campo. Ele não se importava com mais nada a não ser com o Boi Verde.
Um dia, já vendo que o animal se tornara um adulto competidor, começou a inscrevê-lo em todas as festas agropecuárias que tinha conhecimento. Começaria pela de Juiz de Fora e depois Conselheiro Lafaiete que eram quase perto uma da outra, sempre em julho ou agosto, depois fora do estado de Minas e então o mundo. Começou a fazer contas e planejar ganhos com o Boi Verde. Estava pronto! Era esperar o dia e sair em viagem com o animal precioso.
Na manhã em que sairia para a primeira viagem, preparou-se todo, havia até comprado um vestido novo para a esposa que nessa hora iria acompanhá-los, a ele a ao boi, e foi com Manuel ao curral para trazer o Boi Verde que mandara dar banho, arrumar e enfeitar na véspera.
Entrou no curral e teve a maior decepção de sua vida: O Boi Verde sumiu.
Ninguém sabia, ninguém viu, ninguém notou nada. Simplesmente um boi de muitas toneladas e verde como nenhum outro desapareceu sem deixar vestígios.

Continua…

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Artur Laizo Escritor

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