O feijão – Pão de Canela e Prosa
Pão de Canela e Prosa

O feijão

 

Há três dias na praia e somente agora ele se apercebera que deixara o feijão no fogo. Não se importava com a casa, a casa tudo bem, mas o feijão no fogo… E o pior é que ele não comera o feijão. Colocara para esquentar e sonhava em saborear o “feijão gordo”, mas a turma chegou e ele partiu para a praia.

E somente agora ele se dera conta de que deixara o feijão no fogo. A casa, tudo bem, mas o feijão… Ele não comera o feijão. Sonhava com um prato fumegante daquele feijão cheio de linguiça, bacon, carne seca e ele não comera o feijão.

A praia perdera a graça. As mulheres lindas, de tangas cada vez mais curtas, o sol a pino, a cerveja com os amigos… Nada mais significava mais nada. A casa tudo bem, mas o feijão… Poderia ter comido um prato, talvez dois, e seria agora o homem mais feliz do mundo.

Ficava imaginando o fogo sob a panela, o feijão fervendo, talvez já secando, virando o que não se sabe… A casa tudo bem, mas ele não saboreara o enorme prazer que tinha: feijão gordo e quente!

E estava ali há três dias. Três dias, o que teria acontecido com o feijão? Ele não poderia nem sonhar. Não saberia dizer mais nada do que poderia ter acontecido. Deixara a panela de feijão no fogo e não comera. Saíra e há três dias não se dera conta de ter deixado a panela sobre o fogão e o fogo sob a panela…

O que teria acontecido com o feijão? Não tinha opção! A casa, tudo bem, mas e o feijão? Com certeza a sua mãe, que ficara em casa, teria servido no jantar, ou colocado na geladeira, quem sabe? Mas ele não comera o feijão!

Maloca querida, 1998:9,10.

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Artur Laizo Escritor

Artur Laizo nasceu em 1960, em Conselheiro Lafaiete – MG, vive em Juiz de Fora há quatro décadas, onde também é médico cirurgião e professor. É membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete, Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas e presidente da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora - LEIAJF.

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