PODE FICAR A VONTADE – Pão de Canela e Prosa
Pão de Canela e Prosa

PODE FICAR A VONTADE

Eu fui ao centro da cidade e o calor estava insuportável: Sol, céu azul e muito suor. O povo todo vai pra rua quando está um calor danado, não sei pra quê. Acho que é pra ter motivos para reclamar. E reclama, viu! Reclama do sol, da chuva, do calor, do frio, reclama até quando não tem o que reclamar.
Eu não estava aguentando aquele sol queimando minha careca e resolvi entrar em uma loja de roupas. O vendedor, imediatamente, me olhou de cima abaixo e perguntou o que eu queria. Pra não dizer que eu queria esfriar “a moleira”, eu lhe disse que estava só olhando. Ele me respondeu com aquela frase típica:
_ Você pode ficar a vontade!
Eu sabia que ele não me deixaria a vontade e cada passo que eu dava para a direita, ele imitava, me olhava e sorria. E se eu andasse pra frente aquela sombra faria o mesmo e ainda repetiria:
_ Pode ficar a vontade.
Observei bancas de ofertas. Havia uma que dizia: ” Compre cinco e leve dois”. Achei ótima! Depois tinha oferta com aquela enganação classica: O preço ontem era cem reais, hoje colocaram uma placa de oferta especial e o mesmo produto estava de cento e noventa por apenas noventa e nove reais. O pobre enganado vai achar que estará fazendo um sucesso, pagando o mesmo preço.
Lembrei de uma vez, eu ainda na faculdade e duro, passei por uma loja que exibia na vitrine uma blusa vermelha linda. Nãp resisti, entrei e comprei em cinco prestações. Na semana seguinte, havia uma liquidação e a blusa estava sendo vendida pelo valor de duas, das cinco prestações que eu paguei .
Outra banca de peças horríveis, na loja, estava a nove e noventa e nove reais. Por que não dez? Não existe mais moeda de um centavo para troco. Pensei de perguntar ao vendedor “pode ficar a vontade”, mas desisti.
Dei mais dez passos para um lado e lá esfava ele. Cinco em outra direção e quem estava lá? O vendedor. Era até um rapaz bonitinho, bem vestido, com um sorriso forçado nos lábios e doido pra eu sumir da loja pra ele ficar a vontade.
Não aguentei. Sorri pra ele também e saí da loja.
Era melhor fritar no sol!

               

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Artur Laizo Escritor

Artur Laizo nasceu em 1960, em Conselheiro Lafaiete – MG, vive em Juiz de Fora há quatro décadas, onde também é médico cirurgião e professor. É membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete, Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas e presidente da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora - LEIAJF.

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