A VELHA
Artur Laizo
Ela morava sozinha,
Na última casa escondida.
Desde que fora ferida
Não era boa vizinha.
Um dia, ainda criança,
Sofreu a perda dos pais
E calando tantos ais,
Foi perdendo sua esperança.
Cresceu e sem proteção,
Lutou contra a tirania
Do tio que se servia…
Obrigada! Humilhação!
A tia, pobre mulher,
Sem forças, tudo calava,
Via o macho que a matava
De tristeza, sem poder.
A menina sempre só,
Infeliz pra sempre foi.
E como se faz com boi,
O tio matou sem dó.
A mulher ante o defunto,
Enlouqueceu, riu, chorou.
A moça não se abalou,
Com a tia ficou junto.
A polícia não sabendo
Quem seria o matador,
Prendeu a tia. Pavor!
A moça foi se encolhendo.
Louca, na cela, a mulher,
Que sofreu a vida inteira,
Acabou de qualquer maneira,
Morreu sem nada a dizer.
Enfim a moça sofrida,
Livre do macho horroroso,
Teve um dia prazeroso
E pensou na própria vida.
Depois de anos sem futuro
A velha que se tornou,
Infeliz – não se casou –
Preferiu viver no escuro.
Um dia, acharam-na morta
Sentada na sala fria,
Há dias ninguém a via,
E ela nunca abria a porta.
Belíssimo texto. De alguma maneira, não sei se pelo drama vivido pela personagem ou pela solidão em que ela sempre esteve, me lembrei do conto A doida, de Carlos Drummond de Andrade. Tanto o seu poema quanto o conto de Drummond trazem uma carga de sentimentios vários que se misturam e nos fazem imergir em uma profunda reflexão sobre o ser humano. Obrigada por seu poema.
Muito obrigado pelo seu comentário. Abraço.