ASSASSINATO NO CONGRESSO MÉDICO – CAPÍTULO 2 – Pão de Canela e Prosa
Pão de Canela e Prosa

ASSASSINATO NO CONGRESSO MÉDICO – CAPÍTULO 2

A confusão foi tanta que não passou despercebida a nenhum hóspede, principalmente, o homem do quarto 506 que estava em Belo Horizonte para o casamento de um amigo e, por sorte, ou azar, estava hospedado no mesmo hotel. Tenente Gilberto desceu um andar de escadas e chegou à porta do quarto do médico – agora cena de crime – e isolou a área até a polícia da cidade chegar. Claro que ele entrou no quarto para se certificar que estava tudo em segurança e que a mulher estava realmente morta e não deixou mais ninguém entrar no apartamento.
Postou-se de prontidão na porta. Estava fardado – parecia mesmo que somente andava fardado – e cheirava a café. O Tenente tomava litros de café por dia e esse era seu único vício.
Quando a polícia local chegou o delegado Pires quis saber quem ele era e foi por ele mesmo apresentado:
_ Eu sou o Tenente Gilberto, lotado na delegacia de Juiz de Fora e estou hospedado no andar de cima – começou ele. – Quando ouvi a gritaria nesse andar, desci as escadas e isolei a área. Esse apartamento é uma cena de crime.
_ Muito bem, Tenente – esticou a mão o delegado. – Eu sou o delegado de polícia de Belo Horizonte e daqui para a frente assumo o caso.
_ Com certeza, senhor! – Concordou Gilberto. – Estou à disposição para ajudar no que for preciso.
_ Muito obrigado, Tenente. Eu não sei se precisaremos de sua ajuda, mas o senhor é bem-vindo ao grupo se quiser.
O Tenente Gilberto não esperou novo convite e aceitou o convite do delegado. Os dois entraram no apartamento. Gilberto que já havia estado lá dentro apenas se certificou de novamente observar as coisas importantes.
Quando saíram, o legista que acompanhou o delegado perguntou:
_ Quem é esse Tenente, Delegado?
_ Um “carioca do brejo” que acha que pode nos ajudar. Deixei que ele nos acompanhe. Quem sabe ele não aprende alguma coisa.
Os homens riram, principalmente pela expressão usada pelo delegado. Carioca do Brejo é uma forma depreciativa com que os moradores de Belo Horizonte se referem aos juizforanos que rebatem chamando a capital de Roça Grande. A influência do Rio de Janeiro em Juiz de Fora, cidade mineira, se dá muito pela menor distância para a capital fluminense em relação à capital do próprio estado. São brincadeiras sem nenhuma conotação mais séria.
O legista precisou a hora do assassinato entre onze horas da manhã e uma hora da tarde, apesar do ar-condicionado do quarto estar ligado e gelando tudo ao redor. Observou que houve sinais de luta e Luciana estava cheia de hematomas que foram provocados antes da morte. Havia resíduos sob suas unhas extremamente bem-feitas e uma delas estava quebrada. O corte feito no pescoço acabou com o sofrimento da vítima de cinquenta e seis anos. Era um corte feito por arma branca bem afiada e o assassino além de saber usar aquela arma, possuía grande força. O sangue se espalhou pela cama de lençóis brancos e a vítima morreu em pouco tempo de choque hipovolêmico. Não havia mais nada fora do lugar, exceto um vaso de cerâmica que estava espatifar no chão perto da cama e que concluíram, deveria ser uma tentativa da vítima de se safar de seu agressor.
Nos pedaços de cerâmica não havia sangue.
_ O assassino deve ter usado luvas o tempo todo e era conhecido da vítima – observou ele.
_ Por que você acha isso, Tenente? – perguntou o delegado.
_ Não há sinais de arrombamento da porta, as janelas continuam fechadas por causa do ar-condicionado e não há nenhum sinal do assassino no quarto. É como se ele nunca estivesse no quarto.
_ Também observei isso, Tenente – concordou o delegado. – Existe resíduo sob as unhas da mulher, quem sabe pegaremos o criminoso pelo DNA?
_ Provavelmente não conseguiremos nada com esse DNA – continuou Gilberto. – Pode ser um crime passional e o assassino não tem DNA registrado em nossos arquivos.
_ Vamos torcer, Tenente. Vamos torcer.
_ Posso voltar à cena do crime? – perguntou Gilberto. – Agora já tiraram o corpo. Talvez eu ache mais alguma coisa.
_ Tudo bem – concordou o chefe da polícia de Belo Horizonte. – Mas leve com você o soldado Edmundo. Ele poderá ajudá-lo.
_ Obrigado, Delegado.
O soldado Edmundo se aproximou do Tenente Gilberto e se apresentou. Logo depois que o delegado se afastou ele comentou:
_ Tenente Gilberto, eu sou um grande fã seu. Eu o admiro muito.
_ Muito obrigado, soldado. Fico feliz.
_ Eu estudei vários crimes que o senhor resolveu como aquele da “Herança”, e depois outros mais, mas o que eu mais gosto mesmo foi o caso da “Sineta de Bronze” – os olhos do soldado brilhavam enquanto ele falava.
_ Antes de tudo é preciso muita atenção a tudo que possa nos falar quem é o assassino na cena do crime – explicou ele. – Vamos resolver esse caso juntos, soldado?
_ Claro, senhor. Será um grande prazer.
Os dois homens passaram sob a fita de plástico que isolava o local e entraram no apartamento.
O marido da vítima estava em um outro apartamento cedido pelo hotel sendo atendido por um médico da polícia devido ao grande choque que sofrerá. O doutor todo poderoso era extremamente frágil emocionalmente e em uma situação como aquela, estava abaladíssimo. O médico que o examinava já lhe havia dado um anti-hipertensivo e um calmante. Depois disso, ele relaxou um pouco e até dormiu. Os filhos foram avisados e já estavam a caminho.

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Artur Laizo Escritor

Artur Laizo nasceu em 1960, em Conselheiro Lafaiete – MG, vive em Juiz de Fora há quatro décadas, onde também é médico cirurgião e professor. É membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete, Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas e presidente da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora - LEIAJF.

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