O minimalismo surgiu no século vinte e consiste em dizer, mostrar, apresentar tudo em bem pouco. Na literatura surgiram textos pequenos – talvez competindo com a trova, rainha soberana – como a Aldravia, o Haicai, o mini-conto, microconto e etc.
Hoje eu sou membro fundador da Academia de Letras e Artes Minimalista – ABLAM.
Escrevi alguns contos pequenos e posto a seguir:
O MONSTRO
ARTUR LAIZO
Tinha um bicho enorme aqui na cozinha. O barulho era imenso e eu estava começando a ficar apavorado.
“E se eu trancasse a porta do corredor para a cozinha?” Pensei. Talvez ele fosse embora e não quisesse me destruir e comer minhas entranhas.
O barulho diminuiu e eu continuei o que estava fazendo. Quando estava coando o café, eu vi o monstro.
Pisei na tanajura e joguei no vaso sanitário. Eu detesto insetos!
O INSETICIDA
ARTUR LAIZO
Quando eu era pequeno, um dia disse à minha família que quando eu crescesse, eu iria inventar um inseticida que iria exterminar todos os insetos – para mim verdadeiros monstros – do mundo.
Minha mãe me disse: “Coitadinha da abelhinha! Você vai acabar com as abelhas e não vai ter mais mel”
Minha prima me disse enfática: “Vai acabar com o bicho da seda e com toda a seda do mundo” – seus olhos até brilharam.
Por elas, deixei passar.
Hoje, eu detesto mel, quase ninguém veste uma seda pura. Por que eu não inventei o tal inseticida?
ANIVERSÁRIO DE CASAMENTO
ARTUR LAIZO
Ele chegou em casa cansado mas trouxe um bouquet de rosas vermelhas e um vinho francês dos mais caros – ele nem entendia de vinho. Colocou na mesa da sala e acendeu algumas velas para dar um ar romântico e comemorar os dez anos de casados. Apagou a luz da sala que ficou iluminada apenas pela dezena de velas.
Foi à cozinha e encontrou na geladeira um bilhete: “Júlio, depois de tantos anos sem sua atenção, vou morar com o Antônio. Fica bem, Selma”.
Ele voltou pra sala, abriu o vinho, bebeu no gargalo sem sentir o gosto que esrava misturado às lágrimas. Andou pela sala. Derrubou algumas velas no tapete felpudo e enquanto o fogo destruía tudo, ele observava, enquanto pode observar.
BÊBADO
ARTUR LAIZO
Ele chegou em casa bêbado como chegava todos os dias há bem tempo. Procurou por ela, como sempre fazia, sem tesão, mais para se desculpar do mal feito. Ela recusou. Ele foi pra sala. Ligou a televisão. Arrotou e sentiu aquele gosto horrível de cerveja azeda no estômago. Fez uma careta. Foi à cozinha e pegou o frasco de omeprazol da esposa – como sempre fazia -, tomou duas cápsulas e foi para o quarto.
Deitou-se ao lado da esposa que fingia dormir e apagou. Seu sono foi profundo e ela observava ele diminuir o ritmo da respiração. Diminuiu e parou de respirar. Ela olhando. Esperando o tempo passar. Ele deixou de ter batimentos cardíacos. Ela olhando. Depois de um tempo, ela se levantou, foi à cozinha. Esvaziou o conteúdo do frasco de omeprazol no vaso sanitário, recolocou o remédio para estômago – verdadeiro – no vidro. Sentou-se à mesa e pensou em quando deveria chamar a polícia para avisar que o marido morreu bêbado.
Amei seu conto, o monstro!
Muito bem escrito e conciso !
Bravo!!!!
Abraços
Elyane
Gostei muito de todos os contos, essa modalidade de escrita é maravilhosa!
Que bom que gostou. Obrigado