DIÁRIO DO CONFINAMENTO – 6 – Pão de Canela e Prosa
Pão de Canela e Prosa

DIÁRIO DO CONFINAMENTO – 6

03 de abril de 2020 –
Diário do confinamento – D 17

As pessoas estão começando a sair para as ruas. O povo não acreditando naquilo que vê de outros países, acha que aqui será diferente ou estão todos imunes à doença.
A imunidade é uma guerreira que precisa de ajuda. Precisa que nós façamos o que está sendo recomendado: lavagem das mãos e isolamento social, use máscaras.
O Corona vírus só mata velhos, então eu posso ir para rua e não morrerei. Pode ser que não, pode ser que sim. A pessoa que quebra essas recomendações, pode não ficar doente, mas ela vai manter a contaminação e a doença se espalhando e matando os mais velhos, os mais debilitados. E não são somente os idosos que estão morrendo pelo Covid19, são jovens, adultos em fase de grande produtividade que estão sendo acometidos pela insuficiência respiratória aguda e tendo que parar em CTIs, com a família rezando para se curarem. São médicos, enfermeiros, vários profissionais de saúde de todas as áreas, de todas as idades, mesmo aqueles que sabem muito mais que todos.
O vírus mata e ainda está por vir o ápice da curva de contaminação e mortes no Brasil. Basta ver televisão e sofrer com nossos irmãos de outros países juntando mortos para cremar em outros locais, deixando mortos nas ruas porque não têm como dar um destino àquele corpo que foi um amor de alguém, um pai ou uma mãe de alguém… basta ver na televisão, países onde os profissionais de saúde, provavelmente com o coração e a alma em frangalhos, têm de escolher a quem tratar e quem deixar morrer porque não têm equipamentos, remédios ou mesmo lugar para tantos contaminados.
A gente fala e parece que estamos fazendo uma “tempestade com um copo d’àgua”, mas não é uma tempestadezinha o que estamos esperando, mas alguns tsunames todos juntos em todos os pontos do país.
Vai morrer muita gente! Espero mesmo que não. Espero mesmo que estejamos nos preparando para uma guerra que não vai existir. Pior! Essa guerra está aí. Nosso inimigo é invisível. Nós não sabemos como nem com que armas exatamente conseguiremos destruir esse invasor. Sempre em uma guerra o inimigo invade nossas terras e temos que, “por amor à Pátria”, combater o mal. Nessa guerra, nosso inimigo invade nossos corpos e, se não nos matar, poderá se utilizar de nós para levá-lo para o corpo mais frágil que ele conseguirá matar.
Estou de plantão. A todo momento poderá surgir mais um paciente, mais uma vida se perdendo e eu terei que lutar para salvá-la. Espero ter a força para sair ileso e, ao mesmo tempo, evitar que mais uma morte se acrescente à estatística do terror.
Ficar em casa está péssimo? Fique em casa! Ache uma coisa legal para fazer com seus filhos que, no dia-a-dia você quase não vê. Sente-se com seus pais, avós, vivos e bem, dê aquela atenção que normalmente está esquecida. Ame. Ria. Tente sofrer menos por estar confinado na sua casa, imagine que muita gente não tem uma casa. Procure fazer e ensine a quem está próximo de você todos os itens de prevenção.
Sairemos felizes dessa guerra? Não sei! Ninguém ainda pode saber como será. Depende de cada um de nós.
Eu estou de plantão. Espero não receber você ou alguém que lhe seja querido aqui.
Fique em casa! Fique com Deus!

Sobre o autor Ver todas as postagens

Artur Laizo Escritor

Artur Laizo nasceu em 1960, em Conselheiro Lafaiete – MG, vive em Juiz de Fora há quatro décadas, onde também é médico cirurgião e professor. É membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete, Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas e presidente da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora - LEIAJF.

23 comentáriosDeixe um comentário

Deixe um comentário para Ana MARIA ROQUE Matos Cancelar resposta

Seu endereço de email não será publicado. Os campos obrigatórios estão marcados *