Lembrando Mario de Andrade*
Ódio a acordar cedo
A esse tempo quente
Ao suor que escorre
Ao trânsito fremente
À sensação de medo
Ódio ao que ocorre
Todo dia
Enlouquecidamente
Ódio à falta de alegria
E a esse acúmulo de gente
Perdidamente
Ódio ao ‘savoir faire’
E também ao nada fazer
Ódio a não ter chovido
E ter secado a terra
Ódio à guerra
Da Ucrânia
Da Síria
Da fome
Da pobreza
Da pequenez de mente
Ódio à todas as guerras
Ódio à ignorância
E à ganância
Ódio ao comunismo
Ao capitalismo
Ao existencialismo
Ao egoísmo
Ao egocentrismo
Ódio ao obstinado
Ao obcecado
Ao trabalhador compulsivo
Ao vagabundo por opção
Ódio ao dia que nasce
E aquele que finda
Ódio, enfim, ao dia de hoje
De ontem
De amanhã.
Acordei com Ódio de mim
E descontei no mundo!
*Ode ao Burguês – Mário de Andrade – Pauliceia desvairada -1922