Domingo pela manhã, em São Paulo, eu adoro ir para a Avenida Paulista e, principalmente, visitar a Livraria Cultura no Complexo Nacional.
A Livraria, que já foi uma das maiores do país, foi inaugurada em 1969 no imenso espaço que ocupa hoje.
“A livraria ocupa, dentro do Conjunto Nacional, um espaço de 4 300 metros quadrados distribuídos por três pisos. Suas prateleiras reúnem livros, CDs, DVDs, gibis, vinis raros, além de alguns itens de papelaria e acessórios para eletrônicos. Palco de concertos, shows, noites de jazz, palestras, cafés filosóficos e noites de autógrafos, é a principal loja da rede, onde também está localizado o Teatro Eva Herz. Leitores de todos os gêneros e idades passam horas nos pufes coloridos folheando alguma novidade. É difícil sair dali sem nenhum pacote. (https://vejasp.abril.com.br/estabelecimento/livraria-cultura-conjunto-nacional/)
É, enfim, um grande prazer entrar por uma porta pequena e dar de cara com o lugar, que antes fora um cinema, repleto de estantes, livros e pessoas de todo mundo subindo e descendo entre estantes ou sentadas em cadeiras ou mesmo no chão folheando um livro antes de comprá-lo. Olha-se deslumbrado para um mundo literário que encontramos em poucos lugares. Todo esse paraíso guardado por dinossauros que sobrevoam a loja ou que, nos pisos infantis, fazem a alegria da criançada.
E nas horas que se propõe estar dentro da livraria, livros estrangeiros e nacionais conversam com livros de arte e literatura clássica. Machado de Assis anda de mãos dadas com J. R. Ward aguardando a chegada de Nietzsche e o pessoal da ABERST para uma discussão sobre terror. John Pollidori e as Irmãs Brontée, infelizmente, não poderão estar presentes.
Há quem busque informações, livros técnicos, moda, culinária, gibis, CDs, vídeos, musica… No grande conjunto da Livraria Cultura tem de tudo.
Será? Ainda tem de tudo?
Minha grande decepção neste último domingo foi que a Livraria Cultura não é mais a mesma
“Após anos de prejuízos financeiros, que incluiu o fechamento das unidades físicas no Rio de Janeiro, a empresa entra com um pedido de recuperação judicial, no dia 24 de outubro de 2018, procurando renegociar suas dívidas com editoras de livros e outros credores da empresa. O pedido de recuperação judicial foi aceito no dia 13 de abril de 2019 para reestruturar a dívida de 285 milhões de reais. A empresa teve falência decretada pela justiça no dia 9 de fevereiro de 2023. Por conta da crise, administra suas últimas duas lojas apesar de ter tido a falência decretada, a empresa recorreu e obteve liminar que suspende o decreto de falência.
(https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Livraria_Cultura)
Infelizmente, a cultura no país anda mal. A Livraria Cultura anda mal. Tentando sobreviver, vê-se que vários setores foram terceirizados. A lanchonete está terceirizada e o banheiro para uso exclusivo de quem ali vai lanchar. Muita gente ia ao banheiro e, por isso, acabava fazendo um lanche depois. As galerias estao terceirizadas e cada setor tem sua gestão própria. Mas e o centro da livraria?
Eu pesquisei com um vendedor extremamente gentil se havia algum dos meus livros a venda, mesmo sabendo que não e outros titulos famosos que não encontrei também. Andei pelas estantes e notei uma grande desorganização nas prateleiras. Não há mais informações sobre o tipo de literatura que se encontra naquele lugar. Claro que a estante de literatura nacional é minúscula, mas mesmo nas outras, falta muita coisa. No setor de livros em lingua estrangeira, os mesmos volumes de sempre estão nas estantes pedindo socorro como animais que esperam ser adotados.
Observei grande descaso com toda a livraria, menor número de funcionários, grande desorganização geral.
É uma pena! Tenho uma tristeza imensa quando observo algo assim acontecendo com a Cultura do país. Uma loja tão grande e famosa, hoje, não recebe mais livros de diversaa editoras nacionais sem o pagamento prévio dos livros pedidos. Acho que nem pedem mais livros novos e as distribuidoras esperam receber o que lhes é devido ainda.
Meus livros não estão na Livraria Cultura e, brincando com meu editor, ele me disse que “não sabe se é bom ou ruim” não tê-los lá.
Eu gostaria muito de ver a Livraria Cultura a pleno vapor novamente, mas acho muito difícil, principalmente em um país como o Brasil onde se lê muito pouco, na atualidade do mundo, onde o digital está presente e é mais fácil se comprar pela internet. Não sei se haverá solução para a Livraria Cultura, mas será um dó imenso perder um ponto de pausa, paz e satisfação para a alma em qualquer dia na grande São Paulo.
Enquanto isso, continuamos divulgando a literatura nacional com grande esforço diuturnamente.
