NÃO MORRI, AINDA! – Pão de Canela e Prosa
Pão de Canela e Prosa

NÃO MORRI, AINDA!

Uma sensação muito estranha: eu estava caminhando pela avenida Independência, saindo da Academia de musculação e indo ao mercado. De repente, a sensação que eu tive foi a de uma solidão imensa. Pareceu-me até que os ruídos da rua desapareceram e eu estava ali. Olhei para todos os lados e tudo parecia normal, mas eu estava em dúvida se alguém me via. Eu estava com a sensação de ter morrido e, como não sabia, estava continuando a seguir meu caminho até o mercado.
Juro que foi uma sensação ímpar na minha vida e até meus passos pareciam mais lentos e eu pisava em nuvens.
Não sabia o que fazer. Parecia que ninguém na rua me via e eu não conhecia ninguém para cumprimentar e ouvir o retorno.
A ideia era: “Será que eu morri, não percebi e continuei andando?” Juro que nunca tive sensação igual e queria descobrir o que estava acontecendo.
Atravessei a Avenida Barão do Rio Branco com todo cuidado que um vivo precisaria tomar para não morrer, mesmo sentindo que eu estava morto e meu espírito vagando. Passaram por mim muitas pessoas e ninguém se dignou a me olhar. Apesar de ter saído da malhação, eu nem estava fedendo a suor.
Nessa hora, eu juro, eu não estava sentindo nada, nem a dor que está virando crônica no meu tornozelo esquerdo e nem mesmo a máscara molhada no rosto – eu esqueci de levar outra máscara para usar na saída da musculação.
Eu queria que meu caminho estivesse lotado de bons dias como são sempre minhas caminhadas pelas ruas de Juiz de Fora, mas hoje, pareceu-me que ninguém me conhecia e eu, igualmente, não conhecia ninguém.
Entrei no Supermercado Carioca onde faço compras há quarenta anos e ninguém me viu. Eu custei para ver a Lelê e disse “Bom dia”, esperando não ter resposta. Mas ela respondeu:
_ Bom dia, doutor. Tá sumido.
Eu me senti melhor. Ou ela também tinha morrido e estava no mesmo lugar que eu, ou estávamos todos vivos.
Respirei fundo e aceitei que estava tudo bem e eu não tinha morrido… Ainda!

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Artur Laizo Escritor

Artur Laizo nasceu em 1960, em Conselheiro Lafaiete – MG, vive em Juiz de Fora há quatro décadas, onde também é médico cirurgião e professor. É membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete, Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas e presidente da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora - LEIAJF.

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