O MISTÉRIO DA CASA MARROM – CAPÍTULO 4 – Pão de Canela e Prosa
Pão de Canela e Prosa

O MISTÉRIO DA CASA MARROM – CAPÍTULO 4

Ele estava andando pela rua próxima de sua casa, ele viu a sua casa e correu para entrar antes que aquela tempestade que se aproximava caísse. O céu estava preto com muitas nuvens pesadas de chuva e raios e trovões tornavam aquele momento muito mais assustador.
Mateus jamais vira em sua vida uma situação como aquela. Ele tinha dezessete anos, morava naquela casa desde que nasceu e a sua região não era tão propensa a grandes desastres climáticos. Ele estava com medo.
Entrou em casa e ao fechar a porta atrás de si, ouviu barulho que vinha do interior da casa, vinha exatamente do porão que sua mãe jamais deixou que ele entrasse ali. Ele aproveitou a porta aberta e desceu as escadas lentamente. O que viu quase fez com que ele voltasse correndo, mas a curiosidade o fez parar e observar.
No meio do cômodo único que era o porão de sua casa, havia um caldeirão de ferro, preto, suspenso por uma alça de ferro, fumegando. Mateus observou e ficou ainda mais assustado: debaixo daquela panela grande, não havia fogo.
Ele ficou quieto na escada e quase parou de reapirar quando três mulheres de vestidos e capas pretas apareceram rodeando o caldeirão. Entre elas ele viu a sua mãe. Mas elas eram bruxas e isso queria dizer que a sua mãe também era uma feiticeira. Ele engoliu em seco, mas ficou quieto.
As mulheres rodaram em volta do caldeirão que deixava exalar uma fumaça branca e cheirosa e cantavam. Mateus não conhecia aquelas canções, mas entendeu que se tratava de cânticos de bruxaria. O que elas estariam fazendo? Ele estava imóvel e queria ficar despercebido por elas. De repente, sua mãe olhou para ele e o chamou.
_ Mateus, desça até aqui – ordenou ela.
O rapaz sem poder recusar e se sentindo descoberto, desceu o que faltava da escada e sua mãe lhe deu a mão.
_ Não tenha medo – disse-lhe ela confortante. – Está tudo bem.
Ele observou as outras duas mulheres e se sentiu confiante. Deu a mão à outra bruxa e completaram um círculo. Mateus sentiu passar pelo seu corpo uma onda de energia. Era uma sensação boa, reconfortante. Ele fechou os olhos e se sentiu flutuar. As mulheres voltaram a cantar e ele sabia a canção, ele podia cantar com elas. Permaneceram nesse transe por um tempo que Mateus não soube precisar e depois, quando ele sentiu seus pés, novamente, no chão, ele abriu os olhos e viu um sorriso aberto no rosto das três bruxas.
_ Meu filho – começou a sua mãe, – você agora é um de nós e está protegido de qualquer coisa nesse mundo.
_Em qualquer situação que precisar, vamos estar com você – completou outra mulher de cabelos longos e ruivos.
_ Basta que você pense em nós – completou a terceira bruxa de pele bem escura e de grandes olhos vívidos.
Mateus sorriu e depois só se lembrava de acordar em sua cama. Havia adormecido depois daquele ritual.
Ele ouviu a máquina de costuras. Ele se lembrou do passado, lembrou-se que estava naquela estrada deserta para ir visitar a sua avó e se lembrou de estar preso naquela cama imunda.
Sentiu alguma coisa estranha e viu que suas pernas estavam envolvidas em uma calça ou algo que se parecesse com uma e ele não conseguia mais mexer com seus membros inferiores. Ele olhou para frente e viu que o dono da casa marrom se aproximava dele com uma blusa azul e havia algo estranho naquela peça de roupas: sua face estava estampada em um pano branco. Ele entendeu na hora que aquele hábito seria sua mortalha e ele iria ficar preso dentro daquele macacão azul com sua cara estampada onde deveria ser o seu rosto. Ele iria continuar vivo enquanto o demônio não lhe roubasse toda sua energia. Ele não queria morrer desse jeito.
O que ele poderia fazer? Haveria naquele fim de mundo quem pudesse ajudá-lo? Ele sabia que nem gritar conseguiria. Ele estava acabado. Ou não?

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Artur Laizo Escritor

Artur Laizo nasceu em 1960, em Conselheiro Lafaiete – MG, vive em Juiz de Fora há quatro décadas, onde também é médico cirurgião e professor. É membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete, Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas e presidente da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora - LEIAJF.

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