A CARTA – Pão de Canela e Prosa
Pão de Canela e Prosa

A CARTA

A carta
Conversando com meu amigo Marcelo hoje, ele me lembrou como era bom escrever e receber cartas.
A gente tinha o grande prazer de escrever para familiares e amigos:
“Espero que ao receberes essa esteja com saúde junto dos teus.”
Que início! Isso foi mais uma frase célebre que o autor não registrou e perdeu os Royalties.
Acho que o mais importante era esperar pela resposta. Escrevia-se uma missiva, dando notícias e esperando receber notícias das pessoas. E a carta demorava a chegar, e a resposta muito mais. A gente escrevia uma carta, tinha aquela sessão solene e emocionante de ir ao correio postar a mesma e já queria receber a resposta duas horas depois. Como não era e-mail, não era mensagem de Whatsapp, demorava.
Aquele que recebia a carta amava recebê-la. Lia e relia e cheirava – havia cartas com perfume – e pensava em responder e, enfim, respondia. Havia respostas onde se gastavam dias para responder e só aí, postar no correio. Olha a ansiedade de quem esperava a resposta.
Aprendi francês escrevendo cartas. Logo depois da “oitava série” eu passei a me corresponder com duas francesas e um canadense. No início, apanhei bastante, mas no final lia e escrevia normalmente. Depois foi o Esperanto. Passei a me corresponder com um búlgaro, um polonês e um japonês e adorava esse contato através do papel.
Hoje, resolvemos a vida em segundos. Quero falar com meu primo napolitano, segundos. Quero resolver um negócio na Índia, segundos. Quero uma publicação americana, russa, canadense, árabe, segundos.
Mas, e a graça e o romantismo, e a delícia de escrever e receber uma carta? Acabou!
O correio hoje nos traz um milhão de coisas, um milhão de contas, mas não nos traz nunca, uma carta de amor, uma notícia de dor, nada. Acabou-se a carta.
“Você me pede na carta
Que eu desapareça
Que eu nunca mais te procure
Pra sempre te esqueça”
(João Mineiro e Marciano)
Nunca mais essa música, nem esse pedido.
Meus amigos, eu adorava receber cartas e hoje, adoro receber e-mails. A vida evolui e a gente evolui junto.
No entanto, se alguém quiser me escrever uma carta, fique à vontade.

      

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Artur Laizo Escritor

Artur Laizo nasceu em 1960, em Conselheiro Lafaiete – MG, vive em Juiz de Fora há quatro décadas, onde também é médico cirurgião e professor. É membro da Academia Juiz-forana de Letras e da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafaiete, Sociedade Brasileira de Poetas Aldravistas e presidente da Liga de Escritores, Ilustradores e Autores de Juiz de Fora - LEIAJF.

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